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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 mar

Volta de Marconi ao palco principal da política em Goiás, se isso for possível um dia, não se fará pela via dos ataques e agressões a Caiado, porém pelo caminho das ideias e propostas

É natural que uma liderança que passou quase 20 anos reinando como um semideus no governo de Goiás, e de repente caiu, queira recuperar o seu lugar, pelo menos a ponto de ter sua opinião ouvida e as suas posições consideradas. Esse é o caso do ex-governador Marconi Perillo, que experimentou com a eleição de 2018 uma queda raramente vista na história, a ponto de hoje representar nada ou quase nada para a sociedade estadual – sobre a qual ele foi uma estrela a brilhar por perto de duas décadas.

Normal: Marconi esperneia para voltar a ser uma peça importante no xadrez dos partidos em Goiás. É a sua vontade. Que não está de acordo com a maioria das goianas e dos goianos. Em princípio, elas e eles não querem ouvir falar do ex-governador e da sua bandeira, o PSDB. É inconteste que desenvolveu-se em Goiás uma ojeriza extrema aos tucanos, hoje lamentavelmente identificados com a corrupção e a malversação de recursos públicos. Já são duas eleições seguidas em que eles colhem a rejeição do eleitorado, que os levou a uma situação de insignificância na política estadual.

Sejamos pacientes e tolerantes com Marconi, no entanto. Ele tem o direito de tentar a difícil ressurreição, ou seja, quanto ao fim que persegue ninguém pode apresentar qualquer objeção. O problema está nos meios a que o ex-governador recorre – adotando preferencialmente uma linha de ataques e críticas ao governador Ronaldo Caiado, que, a propósito, não é o responsável pelo seu tombo. O responsável, basta pensar um pouco, leitoras e leitores, é o próprio Marconi.

Caiado vai privatizar a Celg GT? Marconi, que vendeu a Celg Distribuidora, é contra. O governador Ibaneis Rocha cogita vedar o atendimento dos pacientes de Covid-19 dos municípios do Entorno nos hospitais de Brasília, uma medida que vai contra o dever humanitário de qualquer autoridade pública? Marconi é a favor. Aqui e ali, o ex-governador cata brechas para na sua imaginação fustigar Caiado, que nem toma conhecimento. Não carece. Mesmo porque o tucano, no momento, está desclassificado como ator do processo político estadual.

Desde antes da massacrante derrota nas urnas de 2018, Marconi já vinha cometendo erros aos borbotões, como continua a fazer. Em grande parte porque, à sua volta, formou-se uma corte de áulicos que raleou, mas persiste. Ele nasceu para ouvir elogios e continua torcendo o nariz para quem fala nos seus ouvidos a indesejável verdade. Se quiser ter a chance de um retorno, o seu caminho deveria ser o da sobriedade e o da ponderação. Ideias e propostas estariam em primeiro lugar, demonstrando preocupação com o futuro de Goiás e da sua população. Caiado tem dois anos e dois meses de governo, Marconi teve 16. Portanto, não cabem pequenezas como gastar tempo com a obsessão por adversários a quem gbusca atribuiri culpas pelas circunstâncias de miserabilidade política em que acabou jogado. Sim, o momento é difícil para Marconi, mas é nessa hora que ele precisaria exibir grandeza.

Quando governava Goiás, Marconi fazia questão de se mostrar preocupado com o Estado e a sua gente. Dizia fazer o melhor que podia para administrar bem e levar benefícios igualmente para todos, mister de qualquer governante ou homem público, assim como ele dizia ser. Por que, apeado do poder, mudaria, como mudou, essa boa intenção?