Segunda onda da pandemia deu a Rogério Cruz a chance de assumir de fato a prefeitura, deixar de ser um gestor envergonhado e se impor como o líder de que Goiânia precisa neste momento. Ele jogou fora
Algumas leitoras e alguns leitores certamente observarão que este blog tem postado comentários em série sobre o prefeito não eleito de Goiânia Rogério Cruz. Pode, de repente, parece exagero a insistência com se publicam aqui comentários críticos sobre essa figura que, apagada antes, foi projetada para a luminosidade de um dos cargos mais importantes do poder estadual e ainda por cima em circunstâncias as mais dramáticas possíveis, que não é necessário repetir.
Mas o destino, que trouxe para Rogério Cruz um desafio aparentemente superior às suas forças, deu também a ele uma oportunidade de resgate, ainda que em forma de uma tragédia anunciada: a segunda onda da Covid-19 agravou as condições sanitárias da capital e passou a ameaçar com mais intensidade a vida de todas as suas moradoras e todos os seus moradores. A crise foi maximizada nos últimos dias: os leitos de UTI e até de enfermaria normal se esgotaram nas redes públicas e privadas, um lockdown parcial se tornou necessário, a redução do contágio passou a ser a prioridade das prioridades e o que o prefeito de Goiânia fez? Em vez de mostrar pulso e coragem para contrariar interesses setoriais em favor do coletivo, sucumbiu à grande adversidade que se abateu sobre a maior cidade do Estado. Simplesmente deixou que o caos se instalasse.
Não à toa, seu secretário de Saúde, um médico sem experiência no ramo indicado pelo genro de Maguito Vilela, o dr. Marcelo Rabahi, já admitiu que um colapso de proporções amazônicas vem aí, com o prefeito placidamente deitado em berço esplêndido. Sua Guarda Municipal não é capaz sequer de fiscalizar as aglomerações nocivas do transporte coletivo, nos terminais apinhados e nos ônibus superlotados, que deveriam teoricamente estar rodando apenas com passageiros sentados. Não há álcool em gel nem qualquer tipo de desinfecção disponível para os usuários do sistema, o que deveria estar sendo encarado como uma ação de guerra. Enquanto isso, também sem cuidados preventivos, o Paço Municipal abriu inscrições para cargos na Saúde e, nas barbas do prefeito, proporcionou o triste espetáculo de uma multidão se acotovelando em filas para entregar documentos e se candidatar a um emprego. Só tudo isso já seria suficiente para mostrar um descontrole político e administrativo sobre a propagação do novo coronavírus, mas tem mais. O próprio Rogério Cruz resolveu folgar e foi parar em um churrasco entre amigos no condomínio Aldeia do Vale, com direito a fotos ingenuamente denunciadoras nas redes sociais. Tem muito maior, evidenciando negligência e descontrole.
E que horror. Onde está o timoneiro que deveria cuidar do seu povo a partir de um exemplo pessoal e da vontade manifesta para afrontar contrariedades e defender a sociedade a qualquer custo? Imaginem, leitoras e leitores, um gestor público como Maguito Vilela em um instante como este? Maguito tinha seus defeitos, porém era determinado: se dependesse das decisões dele, ele jamais falhava. Se Goiânia virar uma Manaus, e essa ameaça não está descartada, segundo a Saúde municipal, o autodeclarado envergonhado prefeito Rogério Cruz, assim definido por ele mesmo em uma entrevista no início do seu mandato espúrio, pagará o preço descendo ao mesmo inferno da baixa aprovação popular que levou um desgostoso Paulo Garcia, depois de deixar a prefeitura com escassos 5% de avaliação positiva, à própria morte. Um impeachment, na Câmara Municipal, onde ele se equilibra debilmente em uma base esfrangalhada, para não dizer nenhuma, será inevitável. E não vai adiantar recorrer ao tudo-posso do alto do Park Lozandes, o candidato a prefeito de fato Andrey Azeredo e a sombra deletéria que lança sobre cada passo de Rogério Cruz.