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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

01 abr

Crise na prefeitura de Goiânia(1): estelionato eleitoral que levou um candidato sem condições físicas à vitória e deu o poder a um vice desconhecido acabou se virando contra o MDB e Daniel Vilela

Os dias têm sido amargos para o MDB e para o presidente estadual do partido Daniel Vilela. Na eleição do ano passado, um e outro se desdobraram para convencer o eleitorado de Goiânia a votar em um candidato fisicamente incapacitado e já naqueles dias irremediavelmente comprometido quanto a uma vida normal no futuro, caso sobrevivesse, muito embora a campanha emedebista e o filho comemorassem a cada dia melhoras que contrariavam as expectativas médicas e anunciassem uma próxima alta que só aconteceu, digamos assim, quando o paciente faleceu e deixou o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, dentro de uma urna funerária.

Que houve um estelionato eleitoral, houve. Que agora se volta contra os seus formuladores. O senador Vanderlan Cardoso, o candidato que tinha como destino manifesto vencer aquela disputa, liderando as pesquisas com folga até a reta final e só perdendo no 2º turno por uma ninharia de votos, cansou-se de denunciar a farsa em andamento. A campanha do MDB, eticamente uma das mais sujas já feitas na capital quanto ao conteúdo, aproveitou a trégua que os adversários respeitosamente concederam ao concorrente em estado pré-terminal para atacar e bater à vontade em Vanderlan, ele mesmo um dos que suspenderam críticas ou questionamentos mais pesados ao Maguito Vilela, cujo telhado de vidro passou incólume pelo 1º e pelo 2º turnos.

Maguito provavelmente morreu sem saber que havia vencido no 2º turno. É uma lenda urbana o que o MDB propaga, ou seja, que ele escolheu ou pelo menos aprovou nomes para o secretariado municipal, em uma época em que, devido ao seu estado de saúde gravíssimo e sustentado por máquinas extracorpóreas que substituíam as suas funções vitais, não tinha consciência de nada. A posse só foi possível graças a um documento fraudado com uma assinatura digital, figura jurídica que não existe no ordenamento jurídico brasileiro.

Daniel Vilela prometeu estrepitosamente processar Vanderlan pelas acusações de que um embuste teria ocorrido nas eleições e se prolongado até as providências formais para a assunção do seu pai ao cargo de prefeito. Passado o momento em que a ameaça serviu às finalidades malandras da campanha, não cumpriu e não o fez até hoje, aliás com o senador repetindo as denúncias, como na semana passada, na nota principal da coluna Giro, em O Popular, quando insistiu em que “as eleições em Goiânia foram uma fraude do início ao fim”. Daniel Vilela não respondeu.

Tudo o que é alicerçado sobre uma base apodrecida não resiste muito tempo. O MDB e seu presidente estadual se empoleiraram na prefeitura de Goiânia, achando que o grande beneficiário do engodo em que o eleitorado de Goiânia foi induzido, Rogério Cruz, aceitaria passivamente o papel de fantoche, esquecendo-se de que ele é quadro de destaque da igreja politicamente mais poderosa do país, a Universal, que tem um dos 10 maiores partidos brasileiros, o Republicanos, e é dona da 2ª maior rede nacional de televisão – uma religião que, notoriamente, tem projeto de poder.

Nesta Semana Santa, foi tudo por água abaixo. Se não deixar o secretariado municipal, nos próximos dias, o MDB e Daniel comprovarão que não têm fibra nem coragem para se posicionar e que preferem a humilhação de carguinhos aqui e ali na estrutura do Paço Municipal. Rogério Cruz não pode ser acusado de nada, nem de “deslealdade” e muito menos de “mentiroso”, como Daniel Vilela disse a ele em um telefonema movido a sangue quente. É só um prefeito que, de uma maneira ou outra, quer dar a sua cara à sua própria gestão. Direito dele.