Crise na prefeitura de Goiânia(6): missa de réquiem para o MDB teve discursos intermináveis, tentativa de constranger Rogério Cruz e citação “épica” da dupla sertaneja Tião Carreiro & Pardinho
Terminou o curto casamento entre o MDB e o prefeito de Goiânia Rogério Cruz. Sob direção do presidente estadual do partido Daniel Vilela, 14 secretários municipais assinaram pomposamente seus pedidos de demissão, enquanto oradores se sucediam em discursos intermináveis, quesito que chamou a atenção no caso do ex-titular da pasta do Planejamento Urbano Agenor Mariano e do próprio Daniel. A esses 14 que se exoneraram agora foram acrescentados, para reforçar o impacto, os 7 que já haviam sido afastados, totalizando 21.
Todos eles se esforçaram para tentar dar um ar de grandeza à decisão coletiva de abandonar o Paço Municipal, menos, na visão de todos eles, uma preocupação com cargos, e mais uma questão de responsabilidade quanto ao futuro da capital – já que a previsão que fizeram é a de um iminente desastre administrativo. A reunião foi inteiramente transmitida pelo Instagram, acompanhada pelos tradicionais comentários irados e negativos, nesse caso em sua maioria contra os emedebistas, acusados de fisiológicos.
Houve ainda uma enxurrada de revelações. Daniel Vilela, por exemplo, contou que tentou falar com Rogério Cruz durante 15 dias, mas não foi atendido, nem mesmo por telefone. Euler Morais deu uma informação picante: o Paço Municipal, silenciosamente, instalou uma auditoria para apurar os contratos de obras que foram assinados na gestão de Iris Rezende, em especial os que dizem respeito ao recapeamento asfáltico de ruas e avenidas de Goiânia. Agenor Mariano acusou as interferências da cúpula do Republicanos, em Brasília, sugerindo que interesses escusos estariam por trás das trocas de nomes no secretariado. O ponto alto foi quando Agenor fez uma citação “épica” de dois versos da música Boiadeiro de Palavra, quais sejam “Prefiro morrer de pé / Do que viver de joelhos”.
O argumento principal compartilhado pelos ex-secretários é o de que eles foram substituídos por pessoas que, não sendo de Goiás, nada conhecem de Goiânia e vão colocar o Paço Municipal em um voo às cegas. Esse mote é um tanto exagerado; o governador Ronaldo Caiado trouxe grande parte da sua equipe de fora, alguns inclusive que nunca haviam pisado no Estado ou sequer desfrutavam do seu relacionamento pessoal, porém teve reconhecido sucesso com a estratégia. Todos eles, criticados inicialmente, deram certo nas suas funções, valendo aqui citar expoentes como Rodnei Miranda, na Segurança; Cristiane Schmidt, na Economia; Andréa Vulcanis, no Meio-Ambiente; e Fátima Gavioli, na Educação.
Curiosidade: pelo menos um dos oradores, Euler Morais, contou que pesquisas durante a o período de proselitismo comprovaram que a presença de Rogério Cruz como vice na chapa de Maguito provocou uma sangria de votos. Ele não detalhou, embora se saiba que isso provavelmente aconteceua partir da denúncia do senador e concorrente Vanderlan Cardoso, apontando manipulação de informações e a ocultação de Cruz, que seria o verdadeiro prefeito em caso de vitória de um candidato que já naquela época, logo após o 1º turno, não dispunha de condições físicas para tocar a campanha, receber o diploma, tomar posse e ocupar um cargo espinhoso como o de gestor administrativo de Goiânia. Tardiamente, mas ainda em tempo, a realidade dos fatos da começa a ser restabelecida, com os próprios emedebistas externando inconscientemente a responsabilidade pelo estelionato eleitoral que elegeu Maguito, empoderou Rogério Cruz e terminou se voltando contra o partido.