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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

23 ago

Aliança para o futuro(4): com o convite ao MDB, Caiado “provocou” a sua base, abriu o jogo e passou a iniciativa para Daniel Vilela, que agora precisa mostrar competência para responder ao desafio

A batalha da sucessão de 2022, dentro da base governista, foi aberta pelo governador Ronaldo Caiado com a visita surpresa do diretório estadual do MDB e o convite ao partido para formar na sua chapa da reeleição em 2022. Caiado colocou as suas cartas nas mesas, mexendo com o seu próprio grupo político, dentro do qual, lembrando, ele é a estrela maior e quase que solitária na sua grandeza. Aqui e ali, apareceram e devem continuar aparecendo uma e outra contrariedade, nenhuma, no entanto, que não possa ser resolvida dentro do prazo extenso que o governador tem até as convenções do ano que vem e de acordo com os instrumentos que detém como chefe do Poder Executivo e sua imensa capacidade de manobra.

Caiado, com a vantagem de jogar com as brancas, assumiu os riscos, se é que existem, de incorporar o MDB ao leque de partidos que sustentará a sua recandidatura, praticamente definindo o presidente estadual da legenda Daniel Vilela como seu vice. Mas isso deixou de ser novidade. Novidade é o que Daniel fará com a bola que recebeu em um passe magistral que o colocou diante do gol.

Isso mesmo: a iniciativa está agora com o filho e herdeiro político de Maguito Vilela. Venhamos e convenhamos: afora discursos e declarações elogiosas para Caiado, sinalizando uma forte aproximação, ele, Daniel, fez muito pouco, não mais que produzir o manifesto dos 27 dos 28 prefeitos emedebistas a favor do apoio à reeleição de Caiado e da sua figuração na chapa. Claro, tem valor, na medida em que deixou acachapado o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, o mesmo que apregoava mentirosamente ter colhido o aval de 80% desses prefeitos para o lançamento de uma candidatura própria do MDB.

Daniel precisa agir. Na sua área, existem dois focos de contestação ao acordo com o DEM: 1) o ressentimento, justo, do prefeito de Catalão Adib Elias, que ele expulsou do MDB por fazer o que ele mesmo vai fazer, ou seja, apoiar Caiado e 2) outro insatisfeito, também em razão de ressentimento, no caso Mendanha, que reclama de Caiado ter apoiado uma adversária contra a sua candidatura em 2020 e alega ser perseguido com inquéritos da Polícia Civil hoje a investigar corrupção na sua administração.

É só. Não parecem ser contratempos de difícil resolução. Adib merece um mea culpa de Daniel. Tem os seus defeitos, como todo mundo, mas é um político de coração limpo, que nunca digeriu a humilhação da porta da rua que Daniel mostrou a ele, em uma das injustiças mais emblemáticas da história política de Goiás, que, como não poderia deixar, cobra uma reparação. A obrigação de resolver não é de Caiado. É de Daniel, em uma oportunidade única para mostrar sua competência, pacificando de alguma forma suas relações com o prefeito de Catalão e os demais que foram expulsos, arrependendo-se publicamente do seu gesto – um dos maiores erros que qualquer político jamais cometeu em Goiás.

Quando a Mendanha, a avaliação é que deve ser deixado por conta própria para que se verifique até onde o seu blefe pode ir. Ele é figura isolada dentro do MDB, por um lado, enquanto, por outro, só tem a seu favor apoios fora do partido que podem ser definidos cesse ainda no MDB, além de, em um futuro inevitável, do ex-ministro Alexandre Baldy, do PP. A dissidência que ele tenta criar é vista como uma resposta ao seu círculo provinciano mais próximo, que o convenceu de que não terá um lugar ao sol na política se não sair da sombra do “irmão” Daniel Vilela. Com a mesma idade e no mesmo campo, Mendanha nunca vai ser nada em Goiás.