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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

07 mar

Vanderlan comprova que não tem palavra, atropela o presidente estadual do PSD Vilmar Rocha levando Mendanha diretamente ao presidente nacional Kassab e confirma que joga com os seus interesses, na política

O senador Vanderlan Cardoso é uma espécie de fantasma da política em Goiás. Está presente, mas não existe. Não é orgânico, isto é, não representa na política nenhum segmento da sociedade e desenvolve uma carreira baseado em suas vontades pessoais e na sua fortuna pessoal. Nas democracias capitalistas, é normal. Admissível. Mas também estabelece limitações que ele, pelo menos há duas décadas, não consegue superar, mesmo porque sua biografia mostra que é volúvel e muito pouco confiável. Ah, virou senador? Sim, mas como se verá adiante, isso não tem um significado tão grande assim.

Ele, em um gesto de deselegância incompatível com a sua altura, levou o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha diretamente ao presidente nacional do PSD Gilberto Kassab, atropelando o presidente estadual Vilmar Rocha – alguém de quem não se pode falar jamais que foi indelicado ou grosseiro com quem quer que seja, até com quem o ofende. Vilmar é assim. E assim tratou Vanderlan, mesmo consciente, o tempo todo, de que ele, Vanderlan, estava usando o PSD para atender a seus interesses individuais, sendo fácil prever que jamais agiria de forma diferente: o senador nunca, nunca atendeu a qualquer projeto coletivo ou de grupo ao não ser aos seus próprios, sem segredo algum, daí o vaivém do seu currículo político. E pior: envolver-se com Mendanha em termos de um partido sério como o PSD é um equívoco sem perdão.

Vanderlan, sendo um cavaleiro solitário, reclama de não ser chamado e de não ser ouvido pelo governador Ronaldo Caiado, assim como nunca o foi por lideranças do passado como Marconi Perillo ou Iris Rezende. O que teria a dizer? A senatória que exerce atende exclusivamente a alguns prefeitos que são beneficiados pelas suas emendas, no estilo despachante dos municípios que o senador adotou  em Brasília e que é um convite ao desastre, haja vistas ao que aconteceu com Lúcia Vânia, quando trocou o exercício institucional do mandato na Câmara Alta pela distribuição de verbas, tratores e ambulâncias e foi varrida pela derrota de 2018 – atividade que para qualquer parlamentar deveria ser secundária, mas que todos ou pelo menos a maioria adotou como prioridade para conquistar bases no interior e reforçar as suas chances de reeleição.

Caiado e Vanderlan, sentando-se, teriam pouco a conversar. Imaginem, leitoras e leitores, o tamanho da dimensão do governador perto do senador, que é pouco mais que um vereador qualificado, na verdade. O que leva a consequências psicológicas, que envolve questões de caráter. Vanderlan recebeu o apoio de Caiado na sua desastrada campanha para a prefeitura de Goiânia, que ele perdeu para um morto (desculpem aqui a crueza, mas essa é a verdade). Retribuir? Isso não entra na cabeça de um milionário que se julga acima de tudo e de todos. Aliar-se? Somente se atendidos nos seus desejos de reconhecimento e glorificação. Com Caiado, não vai acontecer.

Vanderlan não é leal a ninguém, a não ser a ele mesmo. Sua concepção da política é deturpada e parte da busca de realização de vontades particulares, não da defesa de bandeiras amplas e conexas com a sociedade. É um estranho no ninho. Não percebeu que sua eleição para o Senado não decorreu de nenhuma consagração ou de alguma liderança sua, mas do quadro que se desenhou no pleito de 2018. Foi acidental e não expressão de um movimento consistente, um anseio do eleitorado. Teria perdido o lugar para Wilder Morais, se esse não fosse igual a ele, um empresário rico e vazio que cometeu o erro de não acreditar nas próprias chances e acabou em 3º lugar quando poderia ter chegado em 2º. Qual a diferença entre os dois? Nenhuma.

Nesta segunda, Vilmar Rocha deve ter um encontro terminativo com Vanderlan. Vão conversar e o assunto principal não pode ser outro senão a sinuosidade do senador. Vilmar, politicamente falando, é um delicado beija-flor. Vanderlan, um abutre cruento, que só pensa na sua candidatura ao governo do Estado e acredita que isso o livra de qualquer coerência ou integridade, fracamente neste ano, intensamente em 2026. Nesse sentido, parece-se com Gustavo Mendanha na falta de conteúdo e de fidelidade a princípios e companheiros. Esse tipo de gente não costumar dar certo por muito tempo na política e Goiás tem exemplos aos montes. Afinal, a lógica da política é diferente das regras dos negócios, onde a palavra não vale nada e o lucro é tudo.