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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

26 jul

Eleição para o Senado é coisa séria e depende de perfil apropriado, por isso Luiz do Carmo desistiu. Wilder, João Campos, Zacharias e Marconi (este também para o governo) deveriam fazer o mesmo

Eleição para o Senado da República é coisa séria e depende de perfil apropriado quanto aos pretendentes, o chamado “perfil majoritário”, que soma as características de universalidade e representatividade de cada nome. É fácil entender: vejam, leitoras e leitores, a candidatura de João Campos, que só dialoga com segmentos evangélicos, setor da sociedade em que sequer é predominante, e com algumas lideranças sindicais da Polícia Civil, base pequena demais para sustentar um projeto eleitoral de envergadura. De resto, passou pela Câmara Federal cumprindo uma agenda negativa, como a tentativa de instituir a “cura gay”. Com essas limitações, Campos, ao se meter em uma disputa para a qual não tem estatura, acabou cometendo um suicídio político.

Falta perfil majoritário também a Wilder Morais. Incrivelmente, ele foi senador beirando sete anos, substituindo Demóstenes Torres, e não conseguiu colocar um tijolo sobre outro, falhando na obrigação de se vincular a correntes sociais ou políticas nem a nada nem a ninguém. Uma folha em branco, na mais alta Câmara Legislativa do país. Além disso, é milionário, só que não gasta e teima em economizar na campanha, o que o levou à derrota em 2018 e o levará novamente agora. No pleito passado, ele se agarrou ao então candidato Ronaldo Caiado, de quem se tornou inseparável, sem resultado algum graças ao discurso infantil que desfiava, baseado em lembranças da sua vida de menino pobre. Vestia, nesses eventos, blazers Emiliano Zegna. Se comparado com Delegado Waldir, que faz o mesmo agora, ou seja, anda para cima e para baixo colado em Caiado, Wilder foi um fiasco onde Waldir tornou-se um sucesso. Ao lado do governador, debaixo de sol e de chuva, o delegado consertou sua imaturidade e conseguiu adquirir perfil majoritário e com tal consistência que logrou façanha de encabeçar as pesquisas para o Senado, no momento.

Luiz do Carmo foi abatido pela mesma carência de conteúdo de Wilder, com uma diferença: como é um homem de fé, evangélico do pé rachado, teve a humildade de reconhecer a sua inviabilidade diante das urnas. Para deputado federal, ainda tem possibilidades teóricas e seria com certeza um bom parlamentar na Câmara Federal, pela experiência de bastidores que adquiriu. Pelo sim, pelo não, esteve no Senado por quatro anos. Na Câmara, estaria em um nível de atuação política e institucional adequado. Sim, é um pouco tarde para começar praticamente do zero uma campanha para deputado federal, mas ainda dá, levando-se em consideração que ele, Carmo, tem um grau elevado de reconhecimento e penetração entre o seu “povo de Deus”.

Assim como Delegado Waldir, é preciso admitir que, de tanto insistir, Alexandre Baldy alcançou êxito em adquirir o seu perfil majoritário. Nem tanto como Waldir, diga-se, porém com um encorpado recheio à base de muito municipalismo via acesso ao encaminhamento de verbas federais para prefeitos, empurrado pelo prestígio construído no mundo das lideranças do Centrão, por meio do seu partido, o PP. O ponto fraco é a dificuldade para converter esse direcionamento de recursos em retorno para a imagem. Baldy, que é outro milionário na política, gasta mais que Wilder, menos, contudo, que o necessário para impulsionar quem não tem uma identificação popular bem definida, seu caso. O capital político que juntou, mesmo artificial, de qualquer modo autoriza a sua candidatura ao Senado, embalada pela habilidade com que a construiu em meio a um ambiente inicialmente adverso que foi superado com maestria em matéria de articulação e posicionamento. Nisso, surpreendeu.

Restam Zacharias Calil e Marconi Perillo. Zacharias é um estranho no ninho: não pertence à política e, se não soube o que fazer com o mandato que conquistou na Câmara Federal, também não saberia como senador. Além disso, seria uma candidatura, como a do presidente da Assembleia Lissauer Vieira, que dependeria de uma oficialização na chapa da reeleição de Caiado e poderia padecer vicissitudes caso lançada de forma avulsa, como serão as postulações de Delegado Waldir e Alexandre Baldy, que entenderam o jogo com antecipação e se prepararam. Como Caiado não vai chancelar nenhum aspirante específico, já era: onde é que encontraria bases para se sustentar?

E Marconi? O ex-governador tem tudo o que se exige de um candidato majoritário. E em abundância: amplitude, conhecimento, experiência, portfólio e capacidade de articulação – um indiscutível perfil majoritário, enfim. Só que essas virtudes se apequenam diante dos pontos negativos, entre os quais se agiganta a rejeição do eleitorado que o premia com o 1º lugar na ojeriza popular. Desde que foi derrotado em 2018 e afundou nos escândalos do final da sua gestão, passaram-se apenas quatro anos, nem isso, tempo insuficiente para curar as feridas quase mortais que seguram a sua recuperação e tornam o seu lançamento na corrida para governador ou senador uma hipótese de alto risco, já que uma nova derrota seria fatal para o seu futuro. Seguro mesmo continua sendo um mandato na Câmara Federal. Se tiver juízo e se não esqueceu o que aprendeu ao longo da sua carreira, será esse o caminho do tucano-mor de Goiás.

Tem ainda Lissauer Vieira. No comando do Poder Legislativo, ele ganhou um espaço de liderança e anexou automaticamente um perfil majoritário, o que significa que é um competidor qualificado. O desafio, para ele, é outro: calcular com presteza as ameaças de uma candidatura avulsa, uma vez que se tornou inexequível a sua confirmação como único companheiro de chapa de Caiado dada a força das postulações de Delegado Waldir, bem-posicionado nas pesquisas, e de Alexandre Baldy, muito bem estruturado pelos municípios afora. Lissauer é um quadro de renovação e de valor – para o qual vale a pena a procura por uma solução capaz de acomodar os seus interesses e os seus projetos, que parece difícil por ora.