Acostumados a dar vexames, empresários de Goiás, através de suas entidades representativas, preparam-se para protagonizar mais um: vão virar as costas para a defesa da democracia
Não existe um segmento social mais atrasado e mais sem compromisso com o coletivo em Goiás do que o empresariado estadual. Historicamente, está provado que só cuidam dos seus interesses imediatos – dentre os quais não pagar impostos está acima de tudo – e pouco se lixam para a sua participação, que deveria ser obrigatória, no enfrentamento a desafios fundamentais para o país e também localmente falando como vencer a fome, apoiar a cultura, discutir políticas públicas ou, agora, como mais uma vez seus colegas de São Paulo estão dando o exemplo, adotar uma posição forte de defesa da democracia.
Em terras paulistas, portentos da representação das classes produtoras como a FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo e das classes não produtoras, porém geradoras de riqueza, como a FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos já anunciaram que vão subscrever o manifesto a ser lançado no próximo dia 11 pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, reunindo instituições e personalidades dos mais diversos setores políticos e ideológicos. Não se trata de ser contra ou a favor do presidente Jair Bolsonaro ou de qualquer campo da política nacional. Nada disso. O documento é uma demonstração de fé no Estado de Direito, no notável avanço que o país obteve nos últimos anos na sua trajetória democrática e está sendo endossado pelas maiores entidades empresariais brasileiras por um motivo muito simples: o comprometimento da democracia, em qualquer parte, implica fatalmente em um ambiente negativo para o desenvolvimento dos negócios.
A visão miúda do empresariado goiano, no entanto, não enxerga as coisas assim. Na pandemia, enquanto grandes grupos industriais e conglomerados de bancos lideravam doações milionárias para minimizar o aperto das classes desfavorecidas, em Goiás as ocorrências foram raras. O setor de etanol contribuiu com muita expressividade, mas as fábricas beneficiadoras de alimentos se omitiram. Aliás, o agronegócio, força maior da economia do Estado, recusou-se a ajudar. Uma ou outra doação apareceu. No geral, nada de significativo, nem mesmo da parte da poderosa FIEG – Federação das Indústrias do Estado de Goiás, que achou fazer muito carregando algumas pick-ups do tipo Saveiro para entregar alimentos na periferia de Goiânia.
Os donos do PIB em Goiás, todo mundo sabe, são bolsonaristas até o último fio de cabelo. Vá lá, é um direito deles achar que o comunismo ameaça o Brasil e que é preciso um maluco para salvaguardar o capitalismo nacional. Mas daí a fingir ignorância sobre o risco que as instituições democráticas, como a Justiça Eleitoral, estão correndo no momento, vai uma distância enorme, produzindo vexames como o do presidente da FECOMÉRCIO – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás, Marcelo Baiocchi(foto), que anunciou a decisão de assinar o manifesto, acompanhando a sua federação nacional (a CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), e depois recuou, infantilmente alegando erro da sua assessoria de comunicação.
Marcelo Baiocchi deveria fazer como uma avestruz e enviar a cabeça em um buraco metafórico bem fundo. Mas, na esteira do seu comportamento, para onde correram a FIEG, a ADIAL, a ACIEG e tantas outras associações orgânicas dos empresários goianos? Para longe do manifesto e de qualquer gesto em defesa da democracia. Que se dane o Brasil.