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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

29 jul

“Deserto de idéias” denunciado por Marcos Carreiro na coluna Giro, em O Popular, é equívoco, já que Caiado, Mendanha e Vitor Hugo, os principais postulantes, representam propostas claras para Goiás

Em uma abordagem que vai muito além, em matéria de conteúdo, da rotina vazia do dia a dia da coluna Giro, em O Popular, quando assinada por Caio Salgado, o jornalista Marcos Carreiro diz que a campanha eleitoral em Goiás, por enquanto, seria um “deserto de ideias”. Em se tratando de projetos específicos, que os candidatos, poderiam, sim, estar apresentando, Carreiro está coberto de razão e faz uma crítica que eles, os postulantes, deveriam levar em consideração. Contudo, há um equívoco subjacente, e não é pequeno, na afirmação do jornalista: em uma campanha eleitoral, os significados simbólicos dos candidatos são o que importam mais e não é diferente neste momento, em Goiás.

Em 1998, o jovem Marconi Perillo surpreendeu ao derrotar o todo-poderoso Iris Rezende sem nenhuma proposta em particular, mas uma explosiva no geral: o Tempo Novo. Essas duas palavras mágicas mais a cara do moço da camisa azul elegeram um governador que nunca havia administrado sequer um carrinho de pipoca, como o MDB acusava Marconi, na época, infrutiferamente. Se tivesse trabalhado na cobertura daquela campanha, Marcos Carreiro, com certeza, teria antecipado a avaliação que fez hoje, reclamando do “deserto de ideias” que foi substituído pelo antagonismo simplificado do Tempo Novo de Marconi e o tempo velho de Iris e o eleitorado entendeu.

O que temos agora? Simples: cada um dos três principais pretendentes – o governador Ronaldo Caiado, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha e o deputado federal Major Vitor Hugo – resume atributos e marcas próprias, indicativos das ideias que têm para Goiás, mesmo que não entrem em detalhes sobre proposições detalhadas ou o façam apenas eventualmente. Caiado é a continuidade do governo que faz, aliás, com aprovação elevada entre a população. O que ele vai fazer é a sequência do que já está fazendo, ainda que não diga uma palavra nesse sentido. É cristalino. O governo em andamento, com conquistas relevantes, avançará caso seja reeleito. E isso e nada mais do que isso.

O Mendanha acredita que fez uma boa gestão em Aparecida e, em um erro estratégico escandaloso, tem repetido que pretende levar os mesmos fundamentos para o governo do Estado, caso seja o eleito. Ainda que a sua administração tivesse sido positiva, e não o foi, trazendo, ao contrário do que propagandeia, um atraso para o município, com o recuo de todos os seus índices de desenvolvimento, ninguém quer para a monumentalidade de um Estado os parâmetros de uma cidade qualquer, mesmo sendo a segunda maior. Esse erro enterrou as duas candidaturas de Vanderlan Cardoso, em 2010 e 2014, quando insistiu em justificar a sua presença na corrida pelo Palácio das Esmeraldas com as suas gestões em Senador Canedo, essas excelentes, de fato, muito longe, no entanto, para sustentar uma proposta de governo. Mendanha, ao escolher esse caminho, se apequenou e se condenou à derrota.

Major Vitor Hugo, pior ainda. A essência da sua candidatura é uma mercadoria que está em baixa no mercado político nacional, o bolsonarismo. Historicamente, o eleitorado goiano nunca misturou as eleições para presidente e para governador, jamais, em resumo, aceitou interferências de fora na sua livre escolha na resolução sobre os assuntos internos do Estado. A aposta do Major, assim, é um desacerto equiparável ao de Mendanha, ambos tentando amparar suas ambições um em um governo municipal e outro em um governo nacional, que já não vai tão bem das pernas.

O “deserto de ideias” de Marcos Carreiro, na coluna Giro, não é um deserto, talvez uma carência de visões inovadoras, que caberiam notadamente à oposição apresentar, para a vida das goianas e dos goianos e seu futuro. A pouco mais de 60 dias para as urnas, o cenário é um dos mais previsíveis de todos os tempos, dada a fraqueza da oposição, na conjuntura dos tempos atuais, e o favoritismo cada vez mais acentuado de Caiado.