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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

20 ago

Caminhada desastrosa em Goiânia mostra falta de inteligência da campanha de Mendanha, isolamento e a fundura do buraco em que João Campos se meteu

Na manhã deste sábado, 20, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha executou a infeliz ideia de abrir oficialmente a sua campanha com uma caminhada da praça Joaquim Lúcio, em Goiânia, até a Praça do Botafogo, percorrendo um trajeto de cinco quilômetros acompanhado por um diminuto grupo de cabos eleitorais e nenhuma liderança conhecida, a não ser o candidato ao Senado João Campos. A ideia, maluca em todos os sentidos, seria replicar eventos parecidos que sempre marcaram as campanhas de Iris Rezende e até a última de Maguito Vilela para prefeito de Goiânia, buscando, ao trafegar pela antiga coluna dorsal da capital, uma megavisibilidade para as suas candidaturas.

Erros se acumularam em um desastre anunciado. Para começo de conversa, no mesmo horário, o deputado federal Prof. Alcides deflagrou a sua campanha também com uma caminhada, no Jardim Tiradentes, em Aparecida. Isso, quando nada, feriu de morte a iniciativa de Mendanha: candidato milionário, Prof. Alcides mobilizou uma multidão – o que se refletiu no esvaziamento da movimentação do candidato do Patriota, que já seria difícil pela distância em relação ao seu curral eleitoral e pelas dificuldades, assim, em arregimentar cabos eleitorais. Outro equívoco foi a escolha de Goiânia, uma vez que, na região metropolitana, o ex-prefeito já tem alguma penetração, devendo o seu foco, por óbvio, ser as regiões do Estado onde é desconhecido, como Anápolis ou o Entorno de Brasília. Mais: sem uma tropa consistente de candidatos a deputados federal e estadual, Mendanha não dispõe de capacidade de aglutinação de apoiadores, que, normalmente, são levados por essas subcampanhas para ajudar a engrossar o público da estrela principal.

Vejam a foto, leitoras e leitores. Atrás de Mendanha, o cortejo se esgota em uma curta metragem que não serve nem para um aspirante a vereador. Ao lado, confiram uma cena da passeata do Prof. Alcides, com gente a perder de vista. Nem bandeiras para formar um visual positivo havia em Goiânia, ao contrário do que providenciou o candidato a deputado federal do PL no seu reduto – repetindo: no mesmo momento. Enquanto isso, a campanha do governador Ronaldo Caiado foi para os municípios, deflagrando carreatas concorridíssimas rumo à Cidade de Goiás e estabelecendo padrões de comparação muito superiores, mas muito mesmo, ao suspiro do ex-prefeito na capital, até mesmo pela simbologia. Como é que ele, Mendanha, admite se expor tão negativamente assim?

Para piorar o que já ficou ruim, Mendanha fez um discurso, no final da sua melancólica caminhada, na qual, em um ato falho, chamou Caiado de “gigante”. Esse rapaz não tem a cabeça no lugar. Não concatena bem as ideias. Deveria desistir de um desatino que não passa de uma aventura sem a menor base política, social ou filosófica (esse último adjetivo no sentido de candidatos que, mesmo antecipando um insucesso nas urnas, têm o objetivo de marcar posição ou enviar uma mensagem). Além disso, não conta com interlocutores qualificados ou assessoria mínima. Nenhum órgão de comunicação recebeu até hoje um release, uma agenda, uma foto das ações de Mendanha ou o que quer que se pareça com informação válida sobre aonde vai, o que faz ou o que propõe. A falta de estrutura é abaixo da crítica. O eleitorado percebe que gente assim não tem altura para chegar ao Palácio das Esmeraldas.

Nem o prefeito de Aparecida Vilmar Mariano foi à caminhada de Mendanha. Estrategicamente, internou-se em um hospital, alegando a necessidade de uma pequena cirurgia – que, não sendo grave, poderia ser feita em um outro dia. João Campos, coitado, parecia deslocado nas fotos e vídeos. Entrou numa fria ao levar a si próprio e o Republicanos para uma campanha que não consegue cumprir sequer os requisitos básicos a que estaria obrigada. Estivesse na base aliada, teria desfilado hoje por duas dezenas de municípios e ainda seria visto no poderoso palanque montado na velha capital. Avaliou mal, preferiu Mendanha e se enterrou em um buraco bem fundo.