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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

21 ago

Caiado ganha a metade do horário eleitoral. Desconhecidos do eleitorado, Mendanha e Vitor Hugo dependeriam de tempo no rádio e TV para mostrar a cara, mas ficaram com segundos

A Justiça Eleitoral anunciou a distribuição do tempo que os candidatos a governador, a senador e a deputados estaduais e federais terão no horário da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. A planilha mostra um portentoso desequilíbrio entre o governador Ronaldo Caiado e os seus adversários: Caiado ficou com 5,06 minutos em cada bloco de 10 minutos, a metade, no horário do almoço e no do jantar. Ao longo do dia, terá 13 inserções (de vez em quando, 14, para aproveitar as sobras a que tem direito). Do ponto de vista de comunicação, é um massacre.

Wolmir Amado, do PT, vem em segundo lugar, com 2,19 minutos e 6 a 7 inserções diárias. É razoável e dá para fazer uma boa divulgação. Os dois próximos, Gustavo Mendanha e Major Vitor Hugo, despencam perigosamente. Mendanha terá 0,58 segundos nos dois blocos do meio-dia e da noite, e 2 inserções por dia, eventualmente 3 para fechar as contas, enquanto Vitor Hugo disporá de 0,51 segundos e também 2 e de vez em quando 3 inserções espalhadas pela programação. Detalhe: todas essas inserções terão 0,30 segundos. As campanhas poderiam ampliá-las para 0,60 segundos, mas nenhuma quis. Especialistas costumam dizer que são mais efetivas do que os blocos, já que colhem os telespectadores de surpresa, sem dar tempo para que desliguem ou se afastem da televisão ou do rádio.

Pode ser que sim, pode ser que não. O fato é que Mendanha e Vitor Hugo somarão tão poucas que não se beneficiarão daquilo que, em matéria de televisão, em especial, é o mais eficaz: a repetição. Para piorar, as inserções que tendem a ser mais vistas são as do período noturno, caindo a audiência quanto as da manhã e as da tarde. Infelizmente para ambos, no mapa de mídia, os candidatos não têm o poder de concentrar a munição um único horário, sendo forçados a aceitar a divisão equitativa que o Tribunal Regional Eleitoral faz e daí engolir suas inserções quando se sabe que quase ninguém assiste.

Para os dois oposicionistas, a magreza das suas presenças no rádio e TV (lembrando que o rádio tem público reduzido entre o eleitorado) é insuficiente para executar o chamado marketing básico: se apresentar, formular propostas, criticar antagonistas e, se for o caso, defender-se de ataques. À jato, tocar um pedacinho do jingle. Enquanto, durante todo o período da propaganda eletrônica, Caiado ficará à vontade, nadando de braçada em um total de 6 horas mais ou menos, totalizando os blocos e as inserções, Mendanha e Vitor Hugo serão obrigados a se virar em pouco mais de uma hora – isso, repetindo, quanto ao total do tempo em que aparecerão na telinha. Não funciona:  praticamente uma hora repartida por 36 dias de campanha é igual a nada.

Ora, alguém poderá objetar, Jair Bolsonaro foi eleito presidente com 0,7 segundos no rádio e na televisão. Sim, foi. Mas ele tomou uma facada que o colocou no foco principal de todo o noticiário do país, em todos os meios possíveis, o que valeu mais do que mil horários gratuitos de propaganda eleitoral. Trata-se de uma exceção que confirma a regra aceita por toda e qualquer campanha no sentido de que tempo de rádio de televisão é precioso e contribui para definir ou consolidar o resultado de uma eleição. Em Goiás, não há até agora nenhuma expectativa de algo de diferente possa ocorrer, ou seja, o surgimento de alguma “facada” metafórica para catapultar esse ou aquele candidato. Mendanha e Vitor Hugo são desconhecidos e necessitariam de exposição intensiva para massificar os seus nomes. Sem isso, serão jogados nas margens do processo eleitoral e condenados ao insucesso nas urnas.