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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

23 ago

O mito das “pesquisas internas” e a desculpa esfarrapada dos candidatos para justificar números ruins (“Cada instituto tem a sua metodologia”): na verdade, isso é conversa de perdedor

Poucas vezes em eleições em Goiás uma pesquisa de intenções de voto trouxe tanto impacto quanto a última do instituto Serpes, publicada em O Popular, tanto pelo índice espetacular alcançado pelo governador Ronaldo Caiado, de 63% dos votos válidos, quanto pela credibilidade de quem produziu o levantamento – uma empresa com décadas de acertos, responsabilidade e honestidade no campo dos levantamentos eleitorais.

Mas o que repercutiu foi a arrancada de Caiado: um crescimento de 10 pontos percentuais em pouco mais de 30 dias, consolidando a sensação de que a eleição estadual está definida e no 1º turno, em uma “vitória tranquila”, conforme as palavras escolhidas pelo texto que apresentou a pesquisa em O Popular. Um dia depois, no entanto, vieram as reações. Com a boca amarga, o maior prejudicado, Gustavo Mendanha, que só conseguiu aumentar sua performance em um mísero pontinho, passando de 18,7% em julho para 19,7% agora, não hesitou em recorrer ao surrado argumento de que dispõe de “pesquisas internas” mostrando uma outra realidade e tentando justificar essa lorota com o argumento de que “cada instituto tem a sua metodologia” e sugerindo que, por isso, acabam chegando a resultados diferentes e que o trabalho do Serpes estaria equivocado.

Não é verdade, leitoras e leitores. Se tivesse “pesquisas internas” favoráveis, claro, com selo de insuspeição, ele registraria no TRE e divulgaria. É coisa à toa e alavancaria a sua candidatura. Não tem e por um motivo simples: em tese, qualquer que seja a metodologia adotada – e de fato existem diferenças entre elas, porém não grandes – os índices apurados devem ser equivalentes ou aproximados, dentro da margem de erro. Afinal, trata-se de um extrato do mundo real, a que se chega através de técnicas científicas de amostragem, do cuidado com as entrevistas e do cruzamento matemático dos dados obtidos, com pequenas variações procedimentais. E a realidade é sempre a mesma. Ainda que a metodologia seja diferente (e relembrando: os meios utilizados costumam se desigualar muito pouco, já que se baseiam em princípios estatísticos gerais), os percentuais de votos encontrados teriam obrigatoriamente que ser parecidos, dentro da margem de erro, como dito.

Essa estória de “cada instituto tem a sua metodologia”, portanto, é conversa de candidato perdedor. Tal e qual as afirmações evasivas sobre supostas “pesquisas internas”. Para usar uma linguagem direta, é mentira. Historicamente, quem recorre a essa alegação fantasiosa está, antes de mais nada, iludindo a si próprio e, mais grave, admitindo a derrota. Ninguém mais cai. Sendo imaculadas e elaboradas por institutos confiáveis, as tais “pesquisas internas” seriam forçosamente semelhantes àquelas publicadas pelo Serpes. Fora daí, é enganação. As “pesquisas internas” de Mendanha, baseadas em metodologias que seriam suas, peculiares, são um embuste. Se existissem, não passariam de levantamentos manipulados.

O marqueteiro Jorcelino Braga, que exoticamente acumula essa profissão com a de proprietário do nanico Patriota, partido do ex-prefeito de Aparecida, também tentou escapar a uma pergunta sobre os números negativos de Mendanha inventando que “temos institutos que fazem pesquisa para a gente e trabalhamos lastreados neles. Entendemos que cada instituto tem sua metodologia e nosso balizamento para a estratégia de campanha é baseado nos nossos”. Notem: Braga insinua, mas não desqualifica o Serpes. Ele é sabidamente um homem complicado, como demonstrado no desvario com que afastou o ex-governador Marconi Perillo do seu cliente e o condenou a não crescer, mas pensava-se que inteligente. Essa declaração compromete a sua imagem. Se os “institutos contratados” a que ele se refere estão entregando “pesquisas internas” que não batem com a referencial do Serpes, está explicado por que a campanha que orienta vem cometendo uma coleção de erros e hoje é dada unanimemente como mal-sucedida.