Sobre a palavra do momento aplicada a Goiás: bolha. Caiado furou a dele em 2018 e ampliou sua base de sustentação durante o governo, enquanto Mendanha e Vitor Hugo seguem confinados nas suas
Bolha é a palavra do momento. Ou bolhas. A referência é às respectivas bases de sustentação dos dois principais candidatos a presidente da República, Lula e Jair Bolsonaro, principalmente o segundo, que corre o risco de soçobrar logo no 1º turno por não conseguir furar a sua e atrair eleitoras e eleitores não comprometidos com o seu radicalismo facistoide, em especial os que votaram nele na eleição passada e decepcionados o abandonaram diante da falta de resultados da sua gestão e o acúmulo, digamos assim, de extravagâncias de toda natureza durante o exercício do governo.
Quem contemplar a trajetória do governador Ronaldo Caiado concluirá com facilidade que ele já viveu politicamente dentro de uma bolha: a do conservadorismo e do ruralismo. Esse foi o público que o elegeu para contínuos mandatos de deputado federal. Em 2014, Caiado começou a operar um reposicionamento na sua carreira, perseguindo com êxito uma universalidade para o seu nome ao eleger-se para o Senado se apoiando em bandeiras mais amplas como o combate à corrupção. Quatro anos depois, veio a candidatura ao governo do Estado, em um contexto em que a intransigência com os malfeitos passou a ser preponderante, ao que se acrescentou o aval fornecido pela sua biografia imaculada em uma época de abundância de fichas-sujas. Ganhou fácil, no 1º turno, na esteira da má repercussão dos escândalos que assolaram os governos do PSDB.
Ainda era uma bolha, mesmo dilatada. Mas aí veio a transformação: o governo mostrou um Caiado muito além das suas características iniciais. O conservadorismo converteu-se na política duríssima de segurança pública, a mais bem sucedida da história, que reduziu todos os índices de criminalidade. O ruralismo, que era e é esfera de competência do governo federal, foi substituído, surpreendentemente, por uma paixão pela Educação, pela tecnologia e, avançando, pelos programas maciços de solidariedade social outrora típicos da centro-esquerda. Ao mesmo tempo, revelou-se um gestor de mão cheia ao conquistar a estabilidade fiscal, levando Goiás pela primeira vez em mais de 40 anos a um patamar de equilíbrio entre receitas e despesas – o que todos os governadores anteriores sonharam sem lograr alcançar.
Produziu-se, com tudo isso, um estouro da bolha caiadista. Observem as leitoras e leitores, por exemplo, que, hoje, o governador caminha para a reeleição em 1º turno com votos lulistas e bolsonaristas. A última pesquisa Serpes apontou que ele tem maioria entre os segmentos católico e evangélico, ganha em todas as regiões, lidera em todas as faixas de idade, em todos os níveis de ensino e singularmente entre as mulheres, que compõem a maioria dos habilitados a comparecer às urnas de 2 de outubro. Em resumo: o Caiado que substituiu o antigo Caiado é um sucesso do ponto de vista eleitoral. Fala e é ouvido por todas e todos, como é moda. Tornou-se uma liderança ecumênica, abrangente e ilimitada.
Seus adversários, enquanto isso, quedaram-se encolhidos em suas bolhas, onde por ora padecem apequenados. Mendanha não saiu da prisão de Aparecida, seu reduto, onde pode perder para Caiado, conforme a pesquisa do Serpes, que mostrou o governador bem à frente na região Centro, em que fica o município. Nem entre os evangélicos deslanchou, apesar das centenas de fotos orando contrito em cultos que posta nas suas redes sociais, perdendo feio para Caiado dentro desse eleitorado (novamente, o Serpes). Vitor Hugo, pelo seu lado, é muitas vezes pior. A bolha bolsonarista em que se encerrou é tão pequena e reduzida que não foi capaz de atribuir a ele mais do que 3,7% das intenções de votos (novamente, o Serpes). É um nada, apenas.
Presos a bolhas, candidatos não deslancham e não vencem eleições, a não ser, caso de Lula, que se beneficie do tamanho descomunal de uma. No momento, com os dias se escoando rumo à data das urnas, parece que há pouco a fazer e que a hora de reagir passou, para Mendanha e Vitor Hugo. Caiado, nesse sentido, preparou com antecedência e sabedoria a sua reeleição e tem praticamente assegurado mais um mandato. Seus oponentes dormiram no ponto e estão condenados à derrota.