Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

24 ago

A propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e TV, que começa nesta sexta, pode mudar as expectativas para a disputa pelo governo de Goiás? Em tese, sim. Porém, na prática, não

Os programas do horário eleitoral gratuito começam já a partir da próxima sexta-feira, 26. Para as campanhas que estão atrás, será o cartucho terminal a disparar para a conquista de votos e crescer. Não é, contudo, uma solução que automaticamente implica em ganhos para os candidatos. Em outras eras, o palanque eletrônico funcionava melhor. A surpreendente vitória de Marconi Perillo, em 1998, pode ser considerada como um produto da comunicação massiva que o beneficiou no rádio e na TV. Na época, o jovem tucano desfrutou do dobro do tempo destinado ao seu adversário Iris Rezende (Marconi: 9 minutos; Iris: 4,5), o que o transformou na febre avassaladora que tomou conta do Estado de cabo a rabo.

O atrapalho básico, hoje, é que a audiência da televisão é bem menor. Jovens praticamente não assistem e são eles que fermentam o caldo eleitoral. As redes sociais e o streaming que sugam as plateias de telespectadores esvaziarão os programas eleitorais, além do mais considerados chatos, com falatório excessivo e uma maquiagem de marketing vista como fantasiosa. É por isso que se admite que as inserções de 0,30 segundos espalhadas pela grade diária têm mais eficácia, ao colher de surpresa quem está sentado diante da telinha. Mesmo assim, com uma efetividade muito abaixo do que tinha no passado. Paralelamente, o rádio é pífio em matéria de ouvintes sintonizados. Quem se arrisca, acaba desligando quando começa a algazarra dos candidatos interrompe a música, sobrando as pílulas para a missão inglória de levar o recado para 4,77 milhões de eleitores – dos quais menos de 1º ouvem rádio durante instantes do dia e da noite.,

Em eleições recentes em Goiás, o horário gratuito do TRE não ajudou em nada, ao contrário da revolução de 1998. Nem mesmo para o sucesso fabricado de Alcides Rodrigues em 2006 colaborou, a não ser lateralmente (o fator preponderante foi o prestígio de Marconi). No pleito de 2018, o cenário inicial foi o mesmo deferido no final pelas urnas. Os candidatos com mais tempo, como Daniel Vilela e José Eliton alternaram suas posições, segundo e terceiros lugares, congelados, sem avançar, enquanto o governador Ronaldo Caiado triunfou mantendo-se do primeiro ao derradeiro dia na liderança isolada das pesquisas.

Essas circunstâncias vão se repetir, ou seja, a falta de ressonância será mais uma vez a característica das campanhas no rádio e na televisão? É provável. Com quase nenhuma variação, os números apontados, por exemplo, pela última pesquisa do Serpes, tendem a uma equivalência com os que serão cantados pelas urnas eletrônicas, pela inexistência de fatores à altura de levar a uma quebra dos atuais paradigmas até 2 de outubro (e também pelas limitações da propaganda gratuita no rádio e TV). Todos os levantamentos publicados até o momento demonstram que a oposição foi enclausurada na sua bolha histórica de 33% dos votos, ainda um pouco abaixo, e ilhada pelas dificuldades de mobilização dos seus representantes. Os nomes lançados não empolgaram, não surgiu uma proposta sequer minimamente inovadora, ninguém mostrou um desempenho pessoal e político capaz de ameaçar a supremacia da reeleição de Caiado e seus 63% de votos válidos, mais do que suficientes para liquidar a fatura no 1º turno. Com um agravante: nenhum dos oposicionistas tem no rádio e TV mais que segundos diários. Wolmir Amado, do PT, soma um espaço acima de 2,0 minutos, mas a sua candidatura é decorativa e apenas servirá para dar um palanque a Lula em Goiás.

Tudo isso ainda considerando que, daqui para frente, na reta final, todos os candidatos a governador se verão sob pressão quando ao afinamento do proselitismo eleitoral de cada um. Para Caiado, com a monumentalidade da sua coligação de partidos, a amplitude dos apoios pelo Estado afora e o vasto tempo de rádio e TV de que dispõe, é uma regulagem um tanto mais fácil. Pode, se houver necessidade, ser feita em 24 horas, diante do seu potencial de reverberação. Quanto aos antagonistas, pela baixa penetração e consistência das estruturas que mal os sustentam, as exigências para um reposicionamento, caso preciso, são bem maiores e demandarão prazos alargados. Eles, os oponentes de Caiado, estão aprisionados em camisas de força, sem chances de ir muito longe.