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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

27 ago

ROMA é uma grande bobagem (ou “malandragem”, como classificou Vilmar Rocha), não define eleição, mas teve uma serventia: permitiu a Caiado reafirmar a lealdade aos seus 3 candidatos avulsos ao Senado

O ex-secretário estadual de Saúde e candidato a deputado federal Ismael Alexandrino é um novato sem traquejo ou jeito para a política. Daí, avaliou mal ou foi levado a isso por uma situação específica em Palmeiras, onde o prefeito Vando Vitor, do PSDB, apoia a reeleição do governador Ronaldo Caiado, porém se engajou na campanha do ex-governador palmeirense Marconi Perillo ao Senado. Ismael Alexandrino, convencido de que estava amealhando apoios, ingenuamente anunciou: na cidade, a sua chapa seria Caiado-Marconi, sintetizou isso em uma foto – e produziu uma marola que o jornal O Popular apresentou como um maremoto.

Não é. Vamos lá: na prática, em toda eleição há votos cruzados ou híbridos, partidariamente falando, entre correntes adversárias. Na atual, não seria diferente. Bateladas de eleitores vão escolher Caiado para governador e Marconi para o Senado, assim como Caiado e vários dos outros pretendentes senatoriais. No caso de Marconi, é outra estória. Ele não está vinculado a nenhuma candidatura para o Palácio das Esmeraldas, nem ele nem o PSDB. Ou seja, Marconi pede para si mesmo e libera seus eleitores e apoiadores para escolherem quem quiserem para o governo do Estado. Mesmo sendo Caiado, ao qual uma dedica uma rivalidade rancorosa. Essa é mais uma manifestação do conhecidíssimo pragmatismo político de Marconi, no momento atrás de votos para o Senado seja a que preço for.

Essa interpenetração, nessa versão atual batizada de ROMA, é um fenômeno isolado, limitado, sem consequências do ponto de vista de resultados eleitorais relevantes. O ROMA de Ronaldo Caiado e Marconi Perillo tem sentido apenas para os prefeitos do PSDB e mais alguns poucos aliados de Marconi em busca de uma posição de equilíbrio entre a gratidão ou a ligação do passado com o ex-governador tucano e a conveniência de integrar, agora, a base de Caiado. Normal e nada nem ninguém impedirá. Fora da linha foi Ismael Alexandrino, logo ele, ao se meter nesse terreno pantanoso, inocentemente acreditando que o seu gesto de oportunismo eleitoral seria aceitável pelo restante da frente de partidos na qual está inserido – em especial os maiores afetados, ou seja, os três postulantes ao Senado: Delegado Waldir, Alexandre Baldy e Vilmar Rocha – e passaria despercebido.

Errou no cálculo e deu munição para a oposição e para um simulacro de crise. Vilmar Rocha teve a reação mais dura, chamando o ROMA de “malandragem”, embora educadamente não tenha citado a que cabeça se destinava a carapuça. Óbvio, não precisava dizer: para Ismael Alexandrino, principalmente, e secundariamente para… Marconi. Este, abrindo mão da discrição e de se beneficiar sem chamar atenção, preferiu o equívoco de divulgar o impraticável mix de seu nome com o de Caiado e frustrar os seus próprios interesses. Se houvesse vantagem, seria para ele. Provocado o sururu, ainda nos seus momentos iniciais, o governador se manifestou para condenar o tal ROMA, reafirmar a sua fidelidade aos seus três senatoriáveis avulsos e ainda, através da primeira-dama Gracinha, distribuir bordoadas para inibir a adesão localizada de novos Ismaéis Alexandrinos a Marconi ou a qualquer outro candidato ao Senado pelos municípios afora. Essa postura era mais do que prevista e não poderia ser outra, garantida pela conduta séria, desde sempre responsável e honesta, de Caiado como articulador político franco e íntegro acima de tudo, sem as mentiras e os meneios tradicionais da função. Ele é assim e ninguém tira isso dele. Fazer jogo duplo ou triplo, Caiado não fará nem faria jamais. O natimorto ROMA teve serventia para reiterar a liderança diferenciada que ele exerce sobre o seu grupo e nada mais.