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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

30 ago

Marketing de Vitor Hugo, Mendanha e Wolmir na televisão é tão ruim que só terá como consequência impedir o crescimento ou tirar votos desses candidatos

Já se passaram quatro edições do horário gratuito de propaganda eleitoral no rádio e televisão, iniciado na sexta, 26, e com sequência nesta segunda, 29, já permitindo uma avaliação das mensagens e dos objetivos de Major Vitor Hugo, Gustavo Mendanha e Wolmir Amado nos seus programas. Pela pobreza das produções mostrada, é possível concluir: nunca se viu um marketing tecnicamente tão desqualificado, com uma assombrosa ausência de conteúdo e de inteligência – de certa forma abusando da paciência das eleitoras e dos eleitores que porventura se arrisquem a se postar diante dos seus aparelhos de TV para assistir. É um tempo perdido, sem oferecer a necessária tração para alavancar cada uma das campanhas.

Talvez, dos três, Vitor Hugo possa conseguir algum resultado, ao se concentrar no trunfo que acredita ser o apoio do presidente Jair Bolsonaro à sua candidatura em um dos Estados onde o “genocida” se sai melhor nas pesquisas de intenção de voto. Não como em 2018, quando chegou a quase dois terços dos votos. Hoje, Bolsonaro revela-se ora em empate técnico com Lula ora alguns miseráveis pontinhos à frente. Mesmo assim, o Major está certo ao recorrer a esse cartucho, à falta de qualquer outro argumento para atrair apoio a alguém que nunca sequer morou em Goiás. Por isso, seus quatro programas iniciais foram idênticos, sem variar uma frase, um frame ou uma nota musical do jingle. Bolsonaro está lá, entoando uma fala sem convicção sobre os méritos do seu representante. “Tem tudo para dar certo”. Ou seja: se vai dar certo ou não, o presidente não empenha a sua palavra, apenas acha que pode dar.

Diante da histórica recusa do eleitorado goiano em federalizar as eleições no Estado, é uma aposta fadada ao insucesso, mais ainda pessimamente embrulhada no confuso audiovisual da peça de Vitor Hugo, faltando a anexação de propostas inovadoras e sobrando a desconfiança de que pretende apenas se transformar em uma espécie de interventor para reforçar a vassalagem a um presidente com a maior taxa de rejeição dentre todos os postulantes, recusado pelas mulheres, pelos jovens, pela maioria trabalhadora de baixa renda, sem legar nada de importante para Goiás no seu mandato.

Consumidos os 0,51 segundos de exposição do Major, entra Mendanha. Dos seus quatro programas iniciais, três foram iguais. Todos no mesmo formato: o ex-prefeito com os olhos quase fechados, devido ao sol forte (gravações externas exigem apuro profissional, o que não houve). Ao se apresentar, um escorregão: o rapaz admite que a experiência de administrar um município, até o segundo maior, como Aparecida, é insuficiente para um salto como governar Goiás. Candidamente, ele promete se esforçar, caso tenha a chance. Em seguida, entra a velha e surrada fórmula artificial a que Jorcelino Braga lança mão em todas as campanhas pelas quais se responsabiliza: pessoas do povo levantam problemas e o candidato responde. Não há tempo: a essa altura, os 0,58 segundos de Mendanha estão se acabando em meio a três ou quatro propostas cantadas em alta velocidade. Bem sucedido em outras eleições, Braga não está conseguindo se virar no menos de um minuto de Mendanha no palanque eletrônico.

Em termos de produção visual, o que vem na sequência é exageradamente convencional, porém o melhor dentre os oposicionistas: Wolmir Amado, também com um mesmo programa, repetido. Imagens limpas, vinhetas bem-feitas. E, tal qual Vitor Hugo, com prioridade para o padrinho de fora, Lula. E Lula copia a postura frouxa de Bolsonaro ao recomendar, em temperatura morna, o voto em Wolmir. Este, não acrescenta ao irromper com um falatório carregando no sotaque gaúcho, sem nenhum projeto de interesse a não ser ostensivamente ajudar Lula a novamente ganhar a presidência.

Vitor Hugo, Mendanha e Wolmir deixam claro: estão no horário gratuito do TRE apenas para cumprir tabela. Não chamam a atenção, falhando com os paradigmas da verdadeira propaganda eleitoral. Perdem-se. Não impressionam e não pescam votos. Não há um toque de criatividade, de genialidade, como, por exemplo, houve no programa nacional de Lula, nas cenas em que pessoas do povo vestiram a faixa presidencial. Ou quando a mão imitando uma arma, tão usada por Bolsonaro, é contraposta com outra em que os dedos formam o L de Lula e uma voz em OFF pergunta: “Que país você quer: o da violência ou o do amor?”. São metáforas poderosas, que não se viram, até agora, nos programas estaduais dos oposicionistas, cumprindo o indispensável dever de dar significado às suas candidaturas. E sem simbologias, não existe comunicação em matéria de televisão, em eleições ou não.