Nunca se viu antes na história de Goiás uma campanha tão morna: oposição não cria fatos novos, enquanto Caiado tem nas mãos todas as iniciativas e assim consolida a reeleição
Há uma constatação inegável nas eleições em curso em Goiás: os três candidatos a governador da oposição são o que se chama à beira do rio Araguaia de “barrigas verdes”, na linguagem peculiar da região, significando o mesmo que novatos inexperientes quanto aquelas maravilhas naturais e principalmente no que diz respeito às artes da pescaria. Major Vitor Hugo, Gustavo Mendanha e Wolmir Amado conhecem pouco do exigido para quem participa de uma disputa da importância da corrida pelo Palácio das Esmeraldas e em consequência não conseguem ocupar espaço, assistindo apáticos e imobilizados ao amplo avanço do governador Ronaldo Caiado em busca da sua reeleição.
Em uma campanha, quando estão atrás, compete aos oposicionistas gerar fatos novos e tentar abalar o adversário que desfruta da liderança nas pesquisas. O grupo do presidente Jair Bolsonaro faz isso o tempo todo com o antagonista Lula da Silva. Não logrou resultados expressivos até agora, porém não desiste. A cada instante surge uma novidade, inclusive com as infamantes fake news que essa turma está acostumada a usar. Levam o vale tudo eleitoral até as últimas consequências. Não é o que acontece na eleição em Goiás.
Quem está na ponta das pesquisas acaba jogando parado. Nesse ponto, Lula e Caiado se igualam. Aprontam o dever de casa, reagem aqui, evoluem ali de vez em quando, economizando as energias. Claro, têm também as suas iniciativas. Não vão ao limite, contudo. A diferença é que Bolsonaro não dá descanso a Lula, enquanto, no Estado, Vitor Hugo, Mendanha e Wolmir, somados, não conseguem incomodar Caiado mais que uma mosca perturba um elefante. O governador já é um portento em termos de votos, apresentado pelas últimas pesquisas como um candidato capaz da façanha de aumentar o capital eleitoral amealhado em 2018, quando foi eleito no 1º turno com 1,77 milhões de sufrágios. Pelo Serpes e pelo Ipec, os dois institutos de maior credibilidade trabalhando em Goiás, passou hoje de 2 milhões, equivalentes aos 47 a 48% faturados nesses dois levantamentos.
Os três oposicionistas não sabem fazer campanha. Essa é a verdade. Nem mesmo o básico, sequer dispondo de uma simplória assessoria de imprensa, para distribuir fotos e releases das suas atividades. Ignoram a comunicação estratégica, não respondem às críticas e ataques, em especial o Major e o ex-prefeito de Aparecida, e aproveitam mal o pouco espaço que têm, por exemplo, no horário eleitoral gratuito no rádio e televisão. Wolmir Amado pelo menos não tem maiores pretensões além de promover a candidatura presidencial do PT, enquanto Major e Mendanha aguardam um milagre. Sim, não é exagero: um milagre.
Milagre, como se sabe é um acontecimento incomum sem explicação pelas leis naturais. Ambos falam nisso abertamente. Vitor Hugo deposita suas esperanças em algo semelhante à vitória de Bolsonaro em 2018 e que, portanto, conforme a sua crença, poderia se repetir neste ano, transformando-o em governador do Estado. Mendanha e a esposa Mayara ouviram de Deus, diretamente, que ele teria sido escolhido como o novo rei Davi para governar Israel, quer dizer, Goiás. Achando-se um “mito” ou um “fenômeno”, como imagina ser depois de reeleito em Aparecida com uma votação extraordinária, ele meteu na cabeça que bastaria essa unção para chegar ao prédio principal da Praça Cívica, mesmo sem partidos, sem dinheiro, sem apoios de lideranças de peso, sem tempo de rádio e televisão, sem lenço, sem documento.
Nunca houve uma eleição em Goiás com desfecho mais fácil de antecipar, diante do desequilíbrio entre os postulantes que se inscreveram. Da redemocratização, em 1982, para cá, todos os pleitos foram protagonizados por políticos representativos correntes sociais e ideológicas, com currículos de prestígio e ideias realmente catalizadoras para a sociedadem gigantes como Iris Rezende, Mauro Borges, Henrique Santillo, Maguito Vilela, Marconi Perillo e Ronaldo Caiado. Até Alcides Rodrigues, poste de Marconi em 2006, teve o seu significado. Nesse dream team, Vitor Hugo, Mendanha e Wolmir (com a ressalva de que esse último é anos-luz mais preparado ante os outros dois) não entram nem como gandulas.