Programas eleitorais: Braga fracassa no marketing de Mendanha, Vitor Hugo dobra a aposta na influência de Bolsonaro, Wolmir não empolga e Caiado se esbalda com a fartura de tempo
Já está se completando a primeira semana do horário gratuito de propaganda eleitoral no rádio e televisão e não há sinais de que possa ser gerada alguma alteração de importância na corrida até o dia 2 de outubro, a data das urnas. Até a próxima segunda, 12, será publicada mais uma pesquisa Serpes/O Popular, já sob influência dos programas dos candidatos, por ora modorrentos e sem inovações capazes de chamar atenção, em se tratando dos quatro principais concorrentes – o governador Ronaldo Caiado, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, o deputado federal Major Vitor Hugo e o ex-reitor da PUC Wolmir Amado. Se houver novidade, o Serpes apontará. É de se duvidar, contudo.
Caiado, como se sabe, leva uma vantagem agigantada, com mais de 5 minutos de exposição a cada bloco e uma enxurrada de 13 a 14 inserções diárias, enquanto dois de seus adversários – Vitor Hugo e Mendanha – padecem submetidos a menos de um minuto no almoço e no jantar e 2 pílulas por dia, de vez em quando 3 para reunir as sobras. É insignificante, em termos de visibilidade. E, sendo assim, cada segundo tem importância. Vitor Hugo, com o andamento do horário gratuito, redobrou a aposta na influência do presidente Jair Bolsonaro, estrela de todos os seus programas até agora – todos, aliás desafiando a lei, que estabelece limites para esse artifício (12 segundos no máximo para Bolsonaro). O Major busca repetir fenômeno que deu certo em São Paulo, onde o também desconhecido ex-ministro Tarcísio de Freitas foi arrastado para o 2º lugar nas pesquisas pelo apadrinhamento de Bolsonaro, na cola do petista Fernando Haddad – os dois devem disputar o inevitável 2º turno que se prenuncia para lá.
O slogan adotado no rádio e na TV por Vitor Hugo é de uma pobreza e falta de criatividade como poucas vezes se vê: “Chama o Major”. Esse mote, usado na campanha presidencial de Henrique Meirelles, até fazia sentido. Meirelles tinha a aura de autoridade supremas em questões econômicas e propugnava a sua credibilidade como fiadora para um novo estágio de desenvolvimento econômico para o país. Ainda assim, não pegou. No caso de Goiás, a cópia do bordão transformou-se em um pastiche de mau gosto. Por quê ou para quê “chamar o Major”? Nem para assuntos de segurança pública, sua suposta especialidade, seria o caso, em um Estado onde todos os índices de criminalidade despencaram com as políticas implantadas por Caiado nos últimos anos – a ponto do tema cair para os últimos lugares entre as preocupações das eleitoras e dos eleitores.
Bolsonaro chamou o Major para liderar a sua articulação no Congresso Nacional e o que se deu foi um desastre para o governo federal. Só houve desacertos. Por esse caminho, portanto, Vitor Hugo não ganhará votos. Pelo do apoio incondicional do presidente, a ver. Em São Paulo, funcionou. São muitos os que esperam um crescimento do candidato do PL ao governo de Goiás, pelo menos na faixa dos 10% das intenções de voto (no último Serpes, ele não passou de 3,7% e por isso armou um xingatório agressivo e sem fundamento contra a pesquisa). Outros não acreditam, opinião reforçada pela péssima embalagem da exploração do aval de Bolsonaro nos programas eleitorais. Em São Paulo, a diferença é que essa vantagem, se é, está sendo muito bem administrada nos programas de Tarcísio Freitas.
E o Mendanha? O kit padrão do marqueteiro Jorcelino Braga, com pessoas do povo levantando problemas para a abordagem do candidato, parece ter esgotado o potencial. Braga o utiliza desde 2006, quando fez a campanha vitoriosa de Alcides Rodrigues, repisou nas duas candidaturas derrotadas de Vanderlan Cardoso em 2010 e 2014 e novamente reaproveitou em 2020 em Catalão, Anápolis, Jataí e Rio Verde (e teve sucesso em todas). Em 2018, exagerou ao levar Daniel Vilela para bater na porta de eleitoras e eleitores, entrar para dentro, ouvir as queixas e apresentar soluções. Tudo muito forçado, muito teatral, pouco fidedigno – sem resultados, daí. Quer dizer: o clichê de Braga ora foi bem, ora foi mal. Na presente temporada, dado ao cansaço da receita, beira o ridículo, ainda mais com um Mendanha com os olhos quase fechados, desmotivado, falando com a voz em falsete, sem cumprir a missão que obrigatoriamente seria sua, a de impressionar. Falhou: a figura é a de um candidato previamente derrotado.
Braga ressuscita também a estratégia das duas últimas campanhas que marquetou em Goiânia, associando os adversários ao ex-governador Marconi Perillo – na busca de beneficiar Mendanha através da descomunal rejeição que o tucano tem na região metropolitana, superior a 50%. Fez isso com Vanderlan Cardoso, ao trabalhar para Iris Rezende em 2016, e novamente com Vanderlan, ao orientar a comunicação de Maguito Vilela em 2020. Se serviu para atrair votos, não se sabe. Mas é indubitável que Braga nutre uma obsessão doentia por Marconi. E, de novo, lá está a imagem negativa de Marconi sendo usado para uma investida desesperada contra Caiado. A tese é difícil de engolir. Não desce. Caiado e Marconi juntos? Nem como piada seria aceitável.
O último é Wolmir Amado, o representante sem sal e sem tempero do PT. O recurso empregado é igual ao do Major: Lula, tal qual Bolsonaro nos programas de Vitor Hugo, aparece todos os dias pedindo votos para o ex-reitor. Que consegue passar uma ideia de preparo, de boa gente e de confiável, menos para um campo de atividade pesado como o da política. Para azar de Mendanha, Wolmir, a exemplo do Major, tem muitas chances de escalar pontinhos nas pesquisas e em consequência redistribuir os votos da oposição sem perturbar o patrimônio eleitoral de Caiado e as perspectivas do desfecho que as urnas eletrônicas vão cantar na noite do dia 2 de outubro.