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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 set

Com a eleição para governador definida, disputa que interessa é a do Senado: entre acertos e erros, Marconi corre na frente, mas Delegado Waldir morde os seus calcanhares – e deve ficar entre os dois

O pleito para o governo de Goiás está definido. Não há a menor sinalização para uma reviravolta, dada a fraqueza dos adversários antepostos à reeleição do governador Ronaldo Caiado. Eles esperam o que não vai acontecer: um milagre. Até mesmo porque nenhum – Vitor Hugo ou Major Vitor Hugo – é merecedor, para usar o viés messiânico e religioso a que os dois gostam de recorrer, e Wolmir Amado não é um candidato para valer, apenas uma ponte para ampliar o espaço da campanha de Lula no Estado.

Ao contrário, a disputa pela vaga senatorial segue em aberto e verdadeiramente atrai as atenções. Lá vai o ex-governador Marconi Perillo, precocemente redivivo, liderando as pesquisas, com Delegado Waldir mordendo os seus calcanhares. Waldir evoluiu, deixou de lado as gracinhas das suas bem-sucedidas eleições proporcionais, porém atrapalhariam em uma corrida majoritária. Há meses e meses tornou-se companhia inseparável de Caiado pelo Estado afora, faturando os privilégios da anexação da sua imagem à do governador. Tem ficha limpa, enquanto Marconi carrega o desgaste das estrepolias, digamos assim, que marcaram os seus governos. Pronto: está colocada para as eleitoras e os eleitores uma polarização que praticamente afasta os demais postulantes e condena Alexandre Baldy, Vilmar Rocha e João Campos a um papel apenas colateral. Wilder Morais nem entra nessa conta.

A briga é entre Marconi e Waldir. O ex-governador não tem preguiça, recuperou a sua capacidade de articulação, depois da coleção de equívocos que levou ao fracasso de 2018, noves fora as ocorrências policiais. Alimenta o noticiário mais que qualquer um dos demais candidatos, muito mais. Não consegue se libertar da mania de falar dos feitos de antigamente e da duvidosa cobrança do voto em retribuição a um legado que não foi mais do que obrigação, daí o desacertado slogan “por tudo o que fez, vote quatro, cinco, seis”. Surpreendentemente, fala um pouco do futuro, da sua hipotética atuação no Senado. Vantagem: adotou uma linguagem civilizada, parou de xingar Caiado e vestiu o figurino de pai do equilíbrio. Com tudo isso misturado, não avança nem cai nas pesquisas, mantendo-se perigosamente ao alcance das garras do seu principal antagonista.

Tudo indica: é daí que sairá o próximo senador. Não adianta acusar Waldir de não ter perfil para um cargo que é perfeito para Marconi. Não é isso que o eleitorado leva em conta. Vejam o que temos hoje na mais alta Câmara Legislativa do país: Vanderlan Cardoso e Jorge Kajuru, nenhum dos dois capaz de esclarecer qual a contribuição que dão lá. E nem se faça menção a Luiz do Carmo. É a bancada mais deletéria da história de Goiás, tipos que com muita tolerância poderiam estar na Câmara de Vereadores de Goiânia, sequer na Assembleia Legislativa. Waldir está anos-luz adiante deles. Claro, Marconi também. É aí os dois se equiparam.

O páreo para o Senado tem um cheiro de resolução na reta final. Em 2018, foi assim. Marconi não deveria se esquecer: liderou até a última semana, caindo daí para o dia das urnas para o quinto lugar. Quinto. Na região metropolitana, para o sexto. As próximas pesquisas serão relevantes. Se a base de Caiado estivesse fechada exclusivamente com Waldir, Marconi estaria frito, para usar uma expressão popular. Por isso, tudo depende dos últimos e decisivos dias. Informalmente, caso o delegado mantenha a viabilidade, ele pode ser o beneficiário de uma onda anti-Marconi impulsionada pela base caiadista e vencer.