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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 set

Nunca foi tão difícil escrever sobre uma campanha em Goiás, pela falta de novidades, de propostas, de ideias e pelo desequilíbrio entre os candidatos liliputianos e Caiado. Dizer o quê?

Não está fácil escrever sobre a campanha em curso em Goiás. O cenário é morno, tendendo à frieza. A tese da continuidade do governo de Ronaldo Caiado parece amplamente comprada pelo eleitorado, com as pesquisas de credibilidade como a do Serpes demonstrando e a do Ipec, ex-Ibope, apontando para o desfecho da eleição ainda no primeiro turno, como definiu O Popular, em texto assinado pela jornalista Fabiana Pulcineli, com o uso de uma expressão incomum para os cânones do jornal, ou seja, uma “vitória tranquila” de Caiado.

Esse quadro é quase inédito. Houve a vitória acachapante de Iris Rezende em 1982, no primeiro pleito da redemocratização. O seu adversário foi o ex-governador Otávio Lage e deu trabalho. Otávio perdeu por uma larga margem, mas perdeu de pé, lutando até o último minuto. Em 2002, já com os dois turnos instituídos no Brasil, Marconi Perillo conseguiu levar no primeiro em meio a um clima conturbado e estressante até. Em 2018, Caiado ganhou logo no primeiro turno, com um projeto mais sustentado social que politicamente. Seus adversários – José Eliton e Daniel Vilela – tinham estatura para aspirar ao Palácio das Esmeraldas, bases partidárias capilarizadas e garantiram uma campanha animada e efervescente, proporcionando para a população um debate acalorado sobre o futuro. Cumpriram, enfim, as suas obrigações.

Não é o que temos agora. O desequilíbrio entre o governador em busca da reeleição e os seus adversários corresponde a um abismo profundo. Gustavo Mendanha e Major Vitor Hugo são personagens menores, liliputianos, miúdos. Como compará-los a Caiado? Fora das bolhas onde habitam, ninguém quer ouvir a pregação confusa de cada um. São oportunistas, não líderes. Detalhe importante: do ponto de vista do preparo pessoal e da qualificação, não se pode dizer o mesmo de Wolmir Amado, uma estrela de grandeza máxima da academia. O infortúnio do petista é diferente: a falta de nexo político, combinada com a apresentação de uma candidatura apenas para abrir algum espaço para Lula em Goiás e a histórica falta de aceitação, no Estado, para o PT, em todas as eleições.

Em qualquer circunstância, a oposição em Goiás sempre fica com um terço dos votos. Em 2018, foi aos dois terços e elegeu Caiado no primeiro turno. Trocou os sinais, transformando-se em situação e, na presente temporada, mantendo ou provavelmente ampliando a sua votação – conclusão inevitável diante das pesquisas confirmando Caiado com potencial para chegar a mais de 2 milhões de votos, quando no pleito passado teve 1,77 milhão. É acachapante. Isso exigiria de candidatos como Mendanha e Vitor Hugo uma atuação mais proativa, não o vexame que estão protagonizando, correndo de um lado para outro sem um foco estratégico, carentes ambos de um escopo retórico engenhoso ou inovador para atrair a atenção das goianas e dos goianos. Respeitosamente: são incapazes para aventura a que se propuseram.

Apesar do esforço de O Popular, fomentando intrigas principalmente na campanha de Caiado, disparadamente a maior e mais abrangente, dona da metade do tempo de rádio e televisão enquanto seus antagonistas seguem aprisionados em lampejos de segundos, ainda por cima mal aproveitados, nada acontece. Mendanha e Vitor Hugo não existem e, pior, aceitam inertes esse não-ser. E assim, enquanto os dias se escoam rumo ao 2 de outubro, é patente um certo tédio das eleitoras e dos eleitores ansiosos para se ver livres da chateação de uma eleição, a estadual, que mais parece perda de tempo quando já se decidiu pela continuidade. Felizmente, para esquentar o noticiário e sacudir as discussões, as saudáveis e inteligentes, óbvio, está em curso um belo confronto pela Presidência da República.