Do “oi, gente” de Mendanha, passando pelo “Goiásh” de Vitor Hugo e chegando até o milionário Wilder Morais fazendo compras na feira, horário eleitoral já tem momentos de programa humorístico
Leitoras e leitores: o horário eleitoral de propaganda gratuita é coisa muito séria. Haja alerta aos programas dos candidatos a presidente, muito bem-feitos e repletos de conteúdo, no esforço de levar a mensagem de cada candidato ao eleitorado, pelo menos os principais – Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet. O profissionalismo dos marqueteiros encarregados dessas peças audiovisuais é elevado. Sobram recheio em matéria de ideias e estética em termos de forma e imagem. A criatividade é exercida com largueza, sendo possível concluir, sim: dá gosto assistir.
O que se passa em Goiás é o contrário disso. Nesta temporada eleitoral, o uso do rádio e da televisão pelos postulantes acabou empobrecido. O governador Ronaldo Caiado, dono da maior fatia do tempo, aproveita razoavelmente bem as suas oportunidades. Presta contas dos seus feitos no governo até agora e alinha propostas para o futuro. Capricha nas cenas misturado com o povo, enquanto repisa o seu slogan, um achado: “Coragem e coração”, de fato traduzindo a essência da sua gestão ao combinar uma multiplicidade de programas sociais com ações concretas como hospitais e policlínicas pelo interior afora, apoio nunca visto à Educação e os mais extraordinários avanços da história do Estado na redução da criminalidade e recuperação da paz social desafios considerados irresolvíveis pelos governos passados, mas finalmente o foram.
É fácil para os publicitários de Caiado. Seus minutos no horário eleitoral perdem-se de vista, permitindo doses maciças de concentração e repetição, escopo da comunicação via rádio e TV em qualquer parte do mundo. Já para os adversários do governador, é muito difícil. De cara, contam com segundos apenas, caso tanto de Gustavo Mendanha quanto de Major Vitor Hugo. Ou carecem de credibilidade política, situação que aniquila a campanha do desconhecido e insosso Wolmir Amado, um professor que nunca desceu da torre de marfim da academia.
Mas tudo isso já escrevi aqui. Chamo a atenção, hoje, para o show humorístico que está começando a tomar conta dos programas de alguns candidatos, como o Mendanha, ao abrir suas rápidas aparições com um “oi, gente” cuja justificativa seria dar a ele um tom informal e descontraído, porém só consegue mostrar certa falta de respeito com o eleitorado e até uma ausência de responsabilidade. “Oi, gente” pode servir para mesa de bar ou rodinha de sinuca, não uma saudação da parte de quem se propõe a algo tão importante e decisivo quanto governar um Estado, ao entrar na casa de cada um, o que ele faz com enquadramento de câmera de baixo para cima, quer dizer, ele lá em cima e o povo cá embaixo.
É de um primarismo que faz rir. Mas aí irrompe Major Vitor Hugo, o concorrente marcado por uma mancha irremovível no seu currículo: nunca morou, por um único dia, em Goiás. Aliás, “Goiásh”, como ele diz no seu sotaque carregado de carioquês. Nascido na Bahia, foi criado e educado no Rio de Janeiro. Não sabe nada sobre as precisões e demandas das goianas e dos goianos e vende a nítida impressão de uma candidatura, como a de Wolmir Amado em relação a Lula, para dar um palanquinho estadual, mesmo mixuruca, para o santo padroeiro da sua fé e devoção, ou seja, Bolsonaro. Não por acaso, não sai do lugar nas pesquisas, ostentando índices humilhantes de intenções de votos, também como Wolmir.
Um pouco antes, os telespectadores já haviam sido premiados com um espetáculo inusitado: o milionário Wilder Morais prosaicamente fazendo compras na feira. E, não, não é em Taquaral, a minúscula cidade natal que ele celebrizou ao passar seis programas contando ali ter nascido e que dali saiu para conquistar o mundo e ficar rico. Sumiu um parafuso da cabeça de Wilder – ou uns – ao se julgar capaz e preparado para um mandato de senador falando e exibindo um besteirol que não serve nem para a Câmara de Vereadores de… Taquaral. O que comprar um vidrinho de pimenta e um litro de piqui em uma banca de verduras teria a ver com o Senado da República? Só na mente do desmiolado Wilder.
Isso é a propaganda eleitoral em Goiás: candidatos que, pela falta de lucidez e, por que não?, de inteligência, atuam contra si próprios, sem falar na ruindade de equipes contratadas a peso de ouro para elaborar os seus programas e fabricar desatinos. Nada disso rende um voto, tanto que não deslancham nas intenções de votos, lideradas desde ao primeiro levantamento até o último por Caiado e, para senador, por Marconi Perillo. O dia 2 de outubro chega daqui a quatro semanas. Para Mendanha e Vitor Hugo, trará a amargura da derrota inglória. Adicionalmente, é de se esperar nos livre também de Wilder Morais para todo o sempre da política estadual. É nisso que o horário eleitoral gratuito resulta, por enquanto.