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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

12 set

Decisão de Marconi pelo Senado se baseou na leitura equivocada das pesquisas qualitativas e na crença de que Delegado Waldir estaria abaixo dele; não está e uma nova derrota entrou para valer no radar

Interpretar os relatórios de uma pesquisa qualitativa não é tarefa para qualquer um. Esse tipo de levantamento, ao reunir os chamados grupos focais de 8 a 12 pessoas representativas das camadas do eleitorado, indica tendências e capta o que está na cabeça do povo a respeito dos candidatos e da situação política. É fundamental para a tomada de decisões estratégicas, posicionamento e desenvolvimento das campanhas. Todos encomendam as suas. Mas, atenção: precisam ser lidas com inteligência e não pela literalidade do que apuram.

Foi onde o tucano Marconi Perillo falhou ao resolver se lançar ao Senado e saltar no abismo. Primeiro, ele sentiu a força da reeleição do governador Ronaldo Caiado, desaconselhando a sua candidatura ao Palácio das Esmeraldas e apontando para uma derrota acachapante, nesse rumo. Depois, constatou que o seu nome combinava referências negativas como o envolvimento com corrupção e a fuga de Goiás para São Paulo após o cataclisma das urnas de 2018 com o reconhecimento da sua experiência política e do seu trânsito no cenário nacional. Foi informado também a respeito do seu maior adversário, Delegado Waldir, mas aí provavelmente não acreditou. Delegado Waldir? Um deputado que, mesmo eleito com recorde de votos por duas vezes, sempre mostrou um comportamento repleto de gracinhas, poses com as mãos imitando armas e um vaivém ora ao lado de Jair Bolsonaro e Caiado e ora contra? Não, Waldir não teria cara de senador, seria muito menor que Marconi e jamais ganharia uma eleição contra alguém do tamanho do ex-governador.

A pesquisa qualitativa encomendada por Marconi estava correta, mas o diagnóstico dela extraído mostrou-se completamente errado. Eleições não são estáticas e devem ser sempre vistas como um processo em constante evolução. A advertência crucial, para o tucano, foi a de que a sua imagem continua maculada pelos terríveis desvios que levaram ao fiasco de 2018 (5º lugar para o Senado). Ele subestimou esse aviso. Achou que seus pontos positivos acabariam se impondo. Não percebeu o quanto terminaria transformado em alvo, como está acontecendo crescentemente. Que a sua rejeição seria alavancada. E não enxergou que Waldir já havia deixado para trás as falhas de postura, conquistando perfil majoritário, recebendo o poderoso aval da sua proximidade com Caiado e se tornando ponta de lança para o esforço da base governista em busca da eliminação, em definitivo, do seu maior inimigo, no caso, claro, Marconi – que colocou um ponto de mira na própria testa.

Candidatar-se a deputado federal seria a rota segura para a volta ao palco principal da política nacional e estadual. Aécio Neves, em Minas Gerais, fez isso. Mesmo liderando a corrida pelo Senado, preferiu a certeza da sua eleição para a Câmara, assegurando o indispensável mandato para continuar participando das articulações dentro do Congresso. Marconi, ao contrário, cedeu à vaidade, estimulado pela eterna legião de bajuladores que o cerca, acreditando-se grande demais para uma candidatura a deputado federal e muito acima de Delegado Waldir. Equívoco. Não é. E as eleitoras e os eleitores estão mostrando que sabem disso, na medida em que o ex-governador estagnou nas pesquisas, Waldir continua em ascensão e o empate técnico já se instalou, como registrado no último levantamento do Serpes.

Agora não há mais conserto possível. As próximas pesquisas vão confirmar: Waldir está chegando. Não é de se descartar uma união informal da base governista, apostando no Delegado para enterrar Marconi – sim, uma nova queda, apenas quatro anos depois da anterior, significaria ponto final para a sua carreira política. Como que o ex-governador aceitou se expor tanto assim, quando deveria ter tomado o caminho que preservaria o seu futuro e adiaria voos mais ousados para 2026? E com uma campanha pouco mais do que chinfrim, baseada em apoio de vereadores, igrejas evangélicas e sub-lideranças dos municípios, além de focada no passado e calçada de salto alto, como se o Senado não fosse digno de ninguém mais, a não ser ele mesmo.