Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

21 set

Eleição atual desmistificou e esvaziou os debates como elemento informação para o eleitorado: não há sentido em confrontar candidatos desiguais em matéria de representação política e social

Estamos a 10 dias da data das eleições e, ao contrário de todas as anteriores, não aconteceu a tradicional profusão de debates entre os candidatos, em especial a mandatos importantes e decisivos como os de presidente da República e de governador de Goiás. Pode ser que até possam voltar no futuro, em outros pleitos, mas, por ora, não é difícil concluir: esse tipo de evento eleitoral está morto e acabado.

Há motivos de sobra para o fim dos debates. O principal é a sua multiplicidade, já que foram apropriados como estratégia de demonstração de prestígio para os veículos de comunicação e instituições promotoras. Atendem, assim, menos aos interesses dos pretendentes ou do público e mais a objetivos de divulgação da marca de cada órgão de imprensa ou de representação classista. Além disso, como a agenda é um dos principais instrumentos para a efetivação de uma campanha e atende ao que o candidato realmente quer e precisa, não vale a pena interromper essa mobilização para participar de encontros muitas vezes sem qualquer audiência interessante, como o da semana passada em Rio Verde, por conta da TV Sucesso, uma emissora de televisão desconhecida no resto do Estado. Ninguém viu. Não serviu para nada.

E não é só. Limitados por um excesso de regras destinadas a dar uma suposta isonomia aos candidatos, os debates alcançaram um ponto de distorção que só oportuniza a personagens sem nenhuma expressão política social ou política ganhar um palco para se esbaldar agredindo aqueles verdadeiramente dotados de consistência e de fato viáveis conforme mostram as pesquisas. Nesse sentido, são injustos e prejudiciais em casos, por exemplo, como o do governador Ronaldo Caiado, o líder isolado e a uma distância muito grande dos demais colocados. Caiado deveria comparecer a uma arena onde todos vão se empenhar em atacá-lo na tentativa de produzir um trecho de vídeo para mais tarde postar nas redes sociais? Por que ouvir desaforos de gente como Gustavo Mendanha, Major Vitor Hugo ou Wolmir Amado, os três juntos mal somando um terço das suas intenções de votos?

Entre os candidatos a presidente, só houve um debate até hoje. E, com a presença de todos (os mais bem situados nas pesquisas, claro), só haverá mais um, o da Rede Globo, ao qual ninguém vai faltar pela sua óbvia importância e pelo fato de que, em relação aos dois contendores mais bem posicionados, Lula e Jair Bolsonaro, ainda há espaço para um ou outro fazer a diferença. Eles irão. Em Goiás, é bem diferente. No topo das pesquisas, Caiado em princípio não conta com expectativa de faturar mais pontos qualquer que seja o desempenho, mesmo sendo legítimo acreditar no seu preparo superior e maior autoridade moral diante dos seus pobres adversários. Qual a lógica, então, em servir de escada para antagonistas ávidos por um showzinho particular, aproveitando-se de uma igualdade de armas inexistente na eleição real?

Os debates, leitoras e leitores, antes arroz com feijão das disputas majoritárias no Brasil e em Goiás, não se encaixam mais no andamento das campanhas e se tornaram obsoletos e desnecessários, em especial quando há uma disparidade gritante de intenções de votos entre os candidatos, tal qual ocorre no momento no Estado. Mediante novos formatos e regras, poderiam quem sabe sobreviver, porém não no modelo envelhecido de sempre.  Aí é pura perda de tempo.