Efeito do mantra popular “todo político é ladrão” beneficia Marconi e está prestes a dar um mandato de senador a ele, mostrando recuperação espetacular apenas 4 anos depois do cataclisma de 2018
A pesquisa Ipec/TV Anhanguera, publicada na noite desta quinta-feira, 22, revelou uma ampliação da vantagem do ex-governador Marconi Perillo na corrida pelo Senado ao abrir uma dianteira de 10 pontos sobre seu concorrente mais próximo, Delegado Waldir: o tucano agora tem 28% das intenções de voto, um salto de 4 pontos em relação ao levantamento anterior do mesmo instituto, enquanto Waldir permanece estagnado nos 18%.
Logo mais à noite, nesta sexta-feira, 23, a divulgação de mais uma rodada da pesquisa Serpes/O Popular vai servir de tira-teima e indicar se o Delegado tem alguma chance, o que parece não existir mais a esta altura, já na reta final para as urnas. Ele, Waldir, derrapou estrategicamente na condução da sua campanha, cometendo erros como acreditar ser um estadista e dando ao adversário uma folga ao investir exclusivamente em campanha propositiva e alfinetadas sutis e talvez de difícil compreensão. Marconi, que não é bobo (às vezes, como em 2018, ao montar uma chapa pura do PSDB para governador, vice e senador, foi), tratou de colocar no ar ataques, derrubando o candidato do União Brasil ao apresentá-lo como inconstante, irresponsável e longe do nível necessário para um político pretendente a um assento no Senado, a mais elevada Câmara Legislativa do país.
Foi uma jogada esperta e inovadora: o ex-governador, líder das pesquisas, abriu fogo contra quem estava atrás para deter qualquer possibilidade de crescimento dele e acertou em cheio. Waldir só acordou quando começaram a aparecer números comprovando o risco cada vez maior da derrota. De dois dias para cá, reagiu e lançou-se a uma ofensiva contra Marconi no rádio e na televisão, recordando as peripécias policiais de 2018 com a exibição de William Bonner, no Jornal Nacional, noticiando a prisão do tucano. Aí, incorreu em outro equívoco. Na sequência dessas imagens e informações, colocou a cara pensando em reforçar as acusações contra o seu oponente, assinando a investida, contrariando uma regra básica do marketing eleitoral: quem bate, perde. E escorregou.
A bomba lançada contra Marconi provavelmente não foi bem calibrada. Pior ainda: ameaça se voltar contra o Delegado. Sabe-se que o eleitorado brasileiro enxerga a classe política no geral como formada 100% por ladrões. Essa é uma pecha que não afasta o voto. É um mantra popular. Está aí o caso exemplar de Lula, com a campanha de Jair Bolsonaro lembrando diariamente o envolvimento do ex-presidente com corrupção da pesada, sem resultados. É um cartucho a ser usado, válido, mas não funciona automaticamente. Tem que ser balanceado. Só que Waldir não teve a indispensável clarividência, assim como Bolsonaro também não. Ele é um outsider independente e autônomo. Não ouve e não dá bola para a opinião de ninguém. Faz as coisas como acha que deve fazer, tal qual o presidente. Enquanto isso, Marconi é o contrário. Ouve a todos e mantém por perto interlocutores inteligentes (e nisso se parece com Lula). Afina bem seus passos antes de dá-los. Está anos-luz à frente do seu rival em matéria de sagacidade, perspicácia e engenhosidade para a política.
Falta uma semana, praticamente, para a data das urnas. Por ora, a distância entre Marconi e Waldir é de 10 pontos, na média do Ipec e do Serpes. Atenção: essa conta não é linear. Basta o 1º lugar cair 5 pontos e o 2º subir 5 pontos e o páreo, pronto, estaria empatado. Além disso, é preciso constatar se a bateção do Delegado vai render frutos ou não. E ainda verificar o que acontece com os indecisos. Para o Senado, eles ainda são um contingente razoável. Dias tensos, para ambos os candidatos, serão vividos até 2 de outubro.