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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 set

Debate da Rede Globo/TV Anhanguera deveria servir à oposição, foi um dos mais fracos da história eleitoral de Goiás e mostrou o vazio desse tipo de evento, sem nada a acrescentar para o eleitorado

O debate promovido pela Rede Globo/TV Anhanguera foi muito ruim. Para começar, o formato adotado envelheceu em demasia e não permite aferir as ideias e a capacidade de cada candidato. Depois, o abismo entre o governador Ronaldo Caiado e seus adversários é tão grande que corresponde a colocar insetos para enfrentar um gigante. Caiado lidera com folga todas as pesquisas, até as manipuladas. É um político que tem história, conta com uma biografia imaculada, toca um governo com avaliação popular elevada e está suficientemente blindado ante as esperadas pedradas de Gustavo Mendanha, Wolmir Amado, Major Vitor Hugo et caterva.

É de se perguntar: por que o governador compareceu apenas para ser o alvo dos seus destrambelhados antagonistas, que perderam o debate para eles mesmos com uma agressividade excessiva e falta de estratégia que somente prejudicou aos próprios? Bem, faz parte. Ainda que prejudicado pela igualdade de armas entre candidatos tão díspares, ele ostentando dois terços das goianas e dos goianos a seu favor, outros padecendo da total e absoluta falta de representatividade social e política (como Wolmir Amado, Cíntia Dias e Edigar Diniz), Caiado teve a grandeza de aparecer, mesmo só para ouvir insultos e ofensas. Examinou a situação e concluiu que a turma do contra não saberia aproveitar a oportunidade, como não aproveitou. No alvo. Acertou em ir, confiando também no velho jargão do marketing político: quem bate, perde. Pelo sim, pelo não, pode até ser beneficiado por mais votos.

Em debates eleitorais, estratégia é tudo. É preciso ter clareza quanto aos objetivos. Vamos aos maus exemplos dados pelo desta terça, 27: Cíntia Dias é uma concorrente 100% inviável, que não vai alcançar uma votação sequer para hipoteticamente se eleger deputada estadual, talvez nem para vereadora em Goiânia. O que ela deveria mirar? A afirmação da esquerda como força política que tem contribuição a dar ao processo democrático e à gestão pública no Estado e no Brasil, em áreas como meio-ambiente, direitos humanos e solidariedade humana. Uma candidatura conceitual, enfim. O que ela fez no debate? Quis bancar a tal ironizando Caiado, prioritariamente, e Vitor Hugo e Mendanha, de leve, batendo bolinha com Wolmir. Resultou em uma comédia. E perdeu a chance de fortalecer o campo ideológico no qual acredita. Ao contrário, desmereceu.

O Major, coitado, estava mais perdido que cachorro em dia de mudança. No seu caso, não haveria dúvidas sobre a meta a perseguir: tirar votos e derrubar Mendanha, o que, convenhamos, não seria difícil. O candidato bolsonarista está condenado a uma derrota acachapante, mas restaria a possibilidade de desgastar o ex-prefeito para tentar ocupar o seu segundo lugar, uma possibilidade real e honrosa para ele. Nada disso. O burro do Vitor Hugo achou-se à altura de Caiado e tentou estabelecer um embate, preservando o seu verdadeiro oponente. No final das contas, não ganhou nada com o debate e talvez tenha até diminuído a sua já pouca aceitação.

Wolmir e Edigar Diniz são zeros à esquerda. Somados, não alcançarão 100, 150 mil votos e olhem lá. Wolmir é o mais fraco postulante ao Palácio das Esmeraldas que o PT já apresentou em Goiás. Não convence ninguém. Tem um sotaque esquisito. Noves fora, não é de Goiás e não tem uma gestão razoável na PUC. Caiado, aliás, deu um leve toque nesse ponto negativo no currículo do ex-reitor e o desorientou. Edigar Diniz, enquanto isso, portou-se como um maluco, muito abaixo dos bons quadros que o partido Novo tem pelo país afora. Esse foi horroroso.

Enfim, o Mendanha. Outro coitado. Ele acha que é igual a Caiado e superior aos demais pretendentes. Não é nem um nem outro. Face a Wolmir, o seu despreparo se acentua ainda mais. No debate, arvorou-se em uma tentativa de polarização com o governador. Nunca. Despejou uma enxurrada de ataques, ofensas e críticas, esquecendo-se de que isso o mostraria como emocionalmente desequilibrado e absolutamente abaixo do amadurecimento necessário para alguém que deseja governar Goiás. E foi o que houve. Terminou se exibindo como ansioso e pequeno diante da estatura de Caiado, querendo se equiparar – o que, convenhamos, é impossível. Jorcelino Braga, seu marqueteiro, nem esteve presente e quem o conhece sabe que se envergonha do buraco onde se meteu ao patrocinar o ex-prefeito, se é que ainda é o antigo Braga.

Ufa, graças ao calendário e ao bom Deus, não haverá mais nenhum debate nestas eleições. Caiado agiu corretamente ao manter a distância moral sobre os fragilíssimos adversários que reproduz a que conquistou nas pesquisas. Todos em Goiás sabem qual será o resultado nas urnas na noite do próximo domingo, que a incapacidade dos oposicionistas ajudou a construir: mais quatro anos para Caiado. E logo no 1º turno. Ainda bem, para nos livrar da anticampanha deletéria da turma do contra.