Imprudência e excesso de confiança derrotaram Marconi, que não soube avaliar as próprias fragilidades e se tornou presa fácil para o fato novo da onda bolsonarista no Brasil
Ao votar em Palmeiras, sua cidade natal, no domingo, o ex-governador Marconi Perillo emocionou-se e foi às lágrimas. Claro, julgava-se, naquele momento, eleito para o Senado depois de liderar todas as pesquisas e já experimentava as deliciosas sensações de uma vitória tão maiúscula quanto seria a sua, apenas quatro anos depois da derrota acachapante de 2018 e dos dissabores policiais enfrentados na sequência. Uma verdadeira ressurreição de Lázaro.
A cena, documentada em fotos e vídeos, simbolizou o salto alto em que Marconi havia subido. Algumas horas depois, mais uma vez, as urnas decretariam um novo desastre para a sua carreira política. De favorito, escorregou para o 2º lugar e foi atropelado na última hora por Wilder Morais, beneficiário da onda bolsonarista que elegeu a maioria dos senadores pelos Estados afora.
Marconi pagou caro pela imprudência da candidatura a um mandato majoritário a tão pouco tempo do cataclisma representado pelo pleito passado. Tivesse disputado vaga na Câmara Federal, estaria agora desfrutando dos louros da vitória, mesmo em um mandato mais humilde que o senatorial. Foi o que fez Aécio Neves em Minas Gerais, garantindo o seu lugar no Congresso e nas articulações políticas e partidárias nacionais pelos próximos quatros anos. Detalhe: Aécio aparecia em 1º lugar nas pesquisas para o Senado e mesmo assim não quis correr um risco com potencial para enterrar o seu futuro, ao contrário do caminha tomado pelo ex-governador goiano.
Basicamente, ao optar pela senatória, o tucano se expôs perigosamente a uma eventualidade negativa, qualquer uma. Poderia não haver. Mas houve: o tsunami bolsonarista. Com rejeição elevada, em especial na região metropolitana, ele não estava blindado para suportar imprevistos, aliás, como em 2018 (a busca e apreensão nas suas residências). Veio o vagalhão e, sem defesas, ele sucumbiu, com a humilhação adicional de ter sido superado por um inepto como Wilder Morais.
O excesso de confiança de Marconi levou a sua campanha a se permitir ao luxo arrogante de colocar Jaime Rincón em primeiro plano, articulando ostensivamente, dando declarações ufanistas aos jornais e se exibindo na condição de eterno braço direito e coordenador geral das ações do tucano. Equívoco grave. Rincón é um desgaste ambulante e sem volta. Uma bola de ferro agrilhoada ao tornozelo de Marconi. Esse deslize contaminou danosamente a candidatura do ex-governador e transmitiu um sinal de retorno das transgressões e pecados que empurraram os dois diretamente ao inferno da política, agora deixando escapar a escala no purgatório que um mandato de deputado federal significaria.
Foi uma burrada sem precedentes. E sem falar de outras: a repetição do discurso de passado (sintetizada no jingle: “Por tudo que ele fez, Marconi quatro, cinco seis”), a fuga a temas polêmicos como a mudança para São Paulo e a tolerância com a corrupção nos seus governos (o necessário mea-culpa que Marconi teimosamente se recusa a fazer), além de infantilidades como a busca frenética de apoios de prefeitos e vereadores sem peso e a indicação de biliardários para as duas suplências, em óbvia manobra de garantia de fundos para a campanha, mas sugerindo que a prioridade não seria defender o Estado no Senado da República e, sim, acolher interesses específicos de gente rica. Foi vítima por um lado dos fatores que vieram da comoção direitista nacional, pelos quais não teve culpa, e por outro lado dos próprios desatinos. A mistura se revelou fatal.