Caiado mirou a eleição presidencial e o campo da direita ao definir apoio a Bolsonaro, mesmo porque, mesmo fazendo um governo de centro-esquerda, como faz, jamais teria o apoio político desse campo
A declaração de apoio do governador Ronaldo Caiado à reeleição do presidente Jair Bolsonaro teve um quê de surpresa. Escrevi neste blog, meses atrás: Caiado se reelegeria agregando os votos da centro-esquerda, diante da condução da sua gestão dentro dessa linha política – e não no sentido ideológico. O que é um governo de centro-esquerda? É aquele preocupado com políticas sociais e ambientais, defende os direitos como o da emancipação das mulheres e adota uma visão de mundo pluralista, com base em princípios da democracia. Exatamente o que Caiado promete intensificar no seu segundo mandato. Exatamente o que Bolsonaro não fez e não fará, a não ser para atender a oportunismos eleitorais.
Como governador, Caiado moveu-se da direita moderada onde sempre transitou, como mostram concretamente as prioridades escolhidas como inquilino do Palácio das Esmeraldas. Foram votos lulistas dos pobres que consignaram a maioria necessária para a vitória no 1º turno, já que ricos e parcela significativa da classe média obviamente preferiram os candidatos bolsonaristas, alguns de extrema-direita, como o Major Vitor Hugo – e assim ele e Gustavo Mendanha, um tolo bolsonarista de conveniência, chegaram inesperadamente a mais de 40% dos votos, bem acima da média histórica da oposição. Em algumas pesquisas, 70% do eleitorado que ficava com Lula postava-se também com Caiado.
Não se pode negar: de certa forma, causou certo espanto a adesão de Caiado a Bolsonaro, de quem havia se distanciado a partir das maluquices e negligência do presidente na época do enfrentamento à Covid-19. Que contas o governador fez para deixar a neutralidade na qual apostou no 1º turno? À primeira vista, a origem desse movimento estaria em um investimento na hipótese da sua candidatura a presidente da República em 2026, diante da iminente derrota, na Bahia, de ACM Neto, um lugar à frente do goiano na fila dos interessados no Palácio do Planalto daqui a quatro anos, agora prestes a ser expelido do páreo. Apoio político da esquerda ou da centro-esquerda para um voo nessa direção, Caiado jamais teria. A alternativa solitária é o campo bolsonarista, que engoliu o conservadorismo ajuizado e vai evoluir mais ainda, se vencer o 2º turno, transformando-se em um chavismo de direita. O que virá nos próximos anos, com o atual presidente reconduzido, é imprevisível.
Tudo vai depender, no entanto, do resultado das urnas dia 30 de outubro em Goiás, tanto faz Bolsonaro ou Lula vencendo a eleição nacional. Isso porque o poder de influência de Caiado terá que se expressar localmente em números superiores: para vencer no 1º turno, ele conquistou 1.800 milhão de votos, enquanto Bolsonaro faturou 100 mil a mais, fechando com 1.900 milhão no Estado. Aumentar essa margem estabelecida a favor do presidente é uma tarefa difícil. Não impossível, contudo. Se Caiado conseguir, será consagrado. Um troféu a mais em uma galeria de vitórias. Se a matemática permanecer a mesma ou, de repente, registrar uma redução, haverá evidentes prejuízos para a projeção da liderança do governador sobre o país e seus reflexos nas urnas de 2026.
Pegar nas mãos (nem tão limpas) de Bolsonaro traz para Caiado um risco tanto de lucros como de prejuízos, portanto. O desafio será arranjar mais votos para a reeleição do presidente e fechar a temporada eleitoral no azul. No empate ou no vermelho, nem pensar.