Marconi já empacotou a mudança e voltou para São Paulo, de onde retornará em 2026 para tentar novamente a ressurreição – e a única chance será a mesma vaga de deputado federal que tinha neste ano
Justiça se faça: o ex-governador Marconi Perillo perdeu a eleição senatorial por acidente, qual seja a onda bolsonarista de última hora que ninguém esperava e varreu o Brasil consagrando 15 senadores por conta da influência do presidente Jair Bolsonaro. Mas ele brincou com a sorte: seguro, seria o mandato de deputado federal, mesmo porque não contava mais com a antiga envergadura eleitoral e, com uma rejeição exagerada, em especial na região metropolitana, estaria fragilizado se houvesse necessidade de resistir a uma eventualidade.
E foi exatamente o que aconteceu: uma eventualidade. Bem, isso agora é passado. Perdeu, acabou. Não há nem um bispo para se queixar. Dom João Justino, substituto de Dom Washington Cruz na Arquidiocese de Goiânia, mal conhece o ex-governador, ao contrário do seu antecessor, que chegou a indicar nomes para o secretariado nos bons tempos dos governos de Marconi. Que já empacotou a mudança e voltou para São Paulo, onde tem residência fixa e alega trabalhar como empregado da Companhia Siderúrgica Nacional – mais uma das estórias nunca esclarecidas do ex-governador: quem sabia das suas especialidades no campo profissional da transformação de minério de ferro em aços planos, revestidos, pré-pintados, folhas metálicas e mais uma infinidade de produtos siderúrgicos que a CSN joga no mercado?
Politicamente, o insucesso de Marconi na corrida para o Senado corresponde a um suicídio assistido pelo amigão Jaime Rincón. Os dois já comemoravam a vitória. Deram um show de imprudência pensando que a partida estava ganha. Motivos havia, a partir da sucessão de pesquisas confirmando a liderança isolada e crescente do tucano-mor de Goiás. Aí um acaso veio na forma do vagalhão bolsonarista mudando tudo, na última hora. Bajuladores falam agora na prefeitura de Goiânia. É ilusão. Chega a ser ridículo. Marconi não é Iris, que mesmo conhecendo o gosto amargo da derrota também por duas eleições sucessivas, 1998 e 2002, se elegeu para a prefeitura da capital apenas dois anos depois, em 2004. Iris tinha afinidade com o eleitorado goianiense. O seu êmulo, ao contrário, desfruta de índices recordes de rejeição. Para o Senado, ficou em 3º lugar, com 98 mil votos, muito pouco em se considerando os mais de 1,2 milhão de eleitores da capital. Em Aparecida, segundo maior colégio eleitoral do Estado, caiu para o 4º lugar, arrastando apenas 31 mil votos.
O futuro, para Marconi, será uma nova tentativa de ressurreição, em 2026, atrás do mandato que teria garantido com tranquilidade na eleição deste ano, o de deputado federal. Não é pouca coisa. Mas vaidosamente ele quis mais e se insistir daqui a quatro anos o resultado será pior. Macaco velho não mete a mão em cumbuca. Marconi meteu e deu no desastre que deu. Daqui para a frente, o desafio quase intransponível será a sobrevivência sem o conforto de um mandato.