Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

11 out

Entidades classistas de Goiás, as piores do Brasil, desrespeitam seus associados ao usar instalações e seus dirigentes para apoiar ostensivamente Bolsonaro

As leitoras e leitores deste blog já viram aqui análises sobre o comportamento vergonhoso dos dirigentes das associações classistas de Goiás quanto a questões de relevância coletiva estadual ou nacional. Na época mais crítica da pandemia da Covid-19, por exemplo. Entidades como a Federação das Indústrias – FIEG, a Associação Comercial e Industrial – ACIAG, ou a Federação dos Sindicatos patronais de comércio e serviços – FECOMÉRCIO, se omitiram escandalosamente. Não se mexeram em termos de solidariedade social para minimizar o sofrimento das goianas e goianas naquele momento dramático. Limitaram-se a um chororô negacionista contra as medidas de restrição da circulação de pessoas, cujo efeito foi a salvação de milhares de vidas.

A FIEG carregava uma Saveiro VW com mantimentos e ia para os bairros distribuir. Ridículo. Algumas cestas básicas e só. Em São Paulo, uma instituição correspondente, a FIESP, recolheu milhões e milhões em doações e repassou para as entidades de socorro alimentício e para a rede de hospitais sob pressão do número crescente de pacientes. O Banco Itaú e mais alguns pares formaram um fundo de mais de R$ 2 bilhões para ajudar na superação da crise sanitária. Enquanto isso, em Goiás, o empresariado rico e de médio porte agiu como uma avestruz e enfiou a cabeça no chão para não ver o que estava se passando. Houve exceções, é claro, mas por conta de um ou outro capitalista, isoladamente. A representação classista, não. Foi um vexame que ficará para sempre na história de Goiás como uma nódoa indelével.

Graças ao governador Ronaldo Caiado e sua determinação de médico humanista, o Estado enfrentou a Covid-19 talvez com o mínimo de perdas de preciosas vidas humanas. As entidades de ponta do mundo dos negócios se alinharam com a faca nos dentes 100% contra Caiado. Vingaram-se na eleição de 2 de outubro, apoiando e votando maciçamente em adversários de direita troglodita como o baiano-carioca Vitor Hugo e o bolsonarista neoconvertido Gustavo Mendanha. Se tivessem lido as pesquisas qualitativas que eles próprios encomendaram e pagaram com dinheiro fornecido pelos seus quadros societários, teriam se conscientizado de que o rigor e a seriedade no enfrentamento à pandemia foram decisivos para a recondução do governador a mais um mandato. Mas não leram. Essa súcia de ignorantes não lê sequer o que em tese deveria interessá-los. É atrasada até o último fio de cabelo. São das trevas.

Agora, ingenuamente, essas entidades assumem publicamente o apoio a Bolsonaro, aquele que quer evitar a venezuelização do país usando os mesmos métodos do chavismo, como a alteração da composição do Supremo Tribunal Federal. Praticam um anticomunismo infantil em uma época onde não há mais comunismo e pouco se lixam para a salvaguarda da democracia, esquecendo-se de que uma aventura autoritária seria fatal para a sua mercancia, ao isolar o Brasil face aos seus maiores parceiros comerciais. Não são capazes de apresentar outros argumentos. Para o agronegócio, 100% dependente das exportações, será o suicídio.

Vamos lá: os dirigentes de órgãos como a FIEG, ACIEG e FECOMÉRCIO, individualmente, têm direito às suas opiniões e votos. Pessoalmente, que façam o que bem entenderem. Mas como presidentes de entes institucionais vinculados a segmentos da sociedade, jamais poderiam tomar partido e, mais grave, manipulando a importância das suas corporações. É abuso de poder. Crime. Todas essas associações têm filiados, que pagam suas taxas, simpatizantes tanto de Bolsonaro quanto de Lula. Ainda que, em cada uma, houvesse um único lulista e todos os demais pró-Bolsonaro, caberia a tais organizações a neutralidade em suas manifestações oficiais – aliás, como se pode observar em São Paulo e em outros grandes centros. Essa turma – os Mabéis (esse, reconheça-se, diminuiu o ímpeto), os Filettis e os Baiocchis – não dignifica Goiás, ao contrário. Se dependesse do que pensam, Vitor Hugo seria o governador. Ou Mendanha. E estaríamos condenados a um buraco bem fundo.