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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

14 out

Jalles Fontoura apóia Lula e mostra por que é um dos políticos mais esclarecidos da história de Goiás; seu irmão Otavinho fica com Bolsonaro e só falta vestir terno verde e gravata amarela como Luciano Hang

Otavinho Lage, filho do lendário governador Otávio Lage, líder do poderoso grupo empreendedor da família em Goianésia, aliás listado na Bolsa de Valores de São Paulo com o nick JALL3 para as suas ações hoje valendo menos do que no lançamento (quando saíram a 8,30, embora projetadas para R$ 12,95, com queda para R$ 7,49 no pregão desta sexta, 14, por volta das 13 horas), declarou apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Do ponto de vista pessoal, é um direito dele. Mas arrastar junto, como fez questão de detalhar, as empresas e a multidão abrigadas sob a Destilaria Jalles Machado, é um crime.

Explico: não se trata de uma firma pequena, um negócio qualquer. Não. A JALL3 é um portento. Reúne milhares de colaboradores, fornecedores e compradores dos seus produtos. No meio de tanta gente, há simpatizantes de Bolsonaro, de Lula e, claro, também indiferentes. Um ente coletivo, enfim. Por uma questão de respeito, Otavinho deveria ter separado as coisas, em respeito à ética – exigida, a propósito, pela própria Bovespa dentro dos critérios de governança para todas as companhias inscritas no seu pregão. Isso tanto é verdade que nem uma única outra grande empresa fez como Otavinho ousou fazer: declarar apoio a um candidato e acrescentar que todo o seu grupo está engajado nessa opção. Nunca. Isso é moralmente condenável. Jamais. Exercitar uma preferência pessoal, tudo bem. Enfiar essa alternativa goela abaixo do universo da corporação que preside, um absurdo, teoricamente passível de ser punido pelas autoridades da Comissão de Valores Mobiliários, a rigorosa CVM. Daqui para ali, vira assédio eleitoral e acaba na polícia.

Enquanto Otavinho incorre em um equívoco tremendo como esse, seu irmão Jalles Fontoura mostra grandeza. Falando em seu nome individual e não do grupo comandado pela sua família, anunciou apoio ao ex-presidente Lula, melhor garantia para o Estado de Direito pleno no Brasil. Frisou até, sendo um nome ligado ao agronegócio, enxergar melhores perspectivas no ex-presidente que no atual mandatário – uma aventura golpista, todo mundo sabe, isolaria o Brasil no concerto dos países desenvolvidos e traria com a quebra das exportações a falência para a produção agrícola e pecuária.

Na época da Assembleia Constituinte de 1988, o escrevinhador deste blog e o saudoso jornalista Haroldo de Britto entrevistamos Jalles Fontoura, um dos deputados constituintes por Goiás, então. No texto produzido a quatro mãos, anotamos ter encontrado um político de direita civilizada, liberal, quase que geneticamente programado para um futuro brilhante na história do Estado. Em 1998, a candidatura ao governo que terminou nas mãos de Marconi Perillo era dele. Em 2002, foi atropelado por Demóstenes Torres como postulante do PFL ao Senado, este escudado no rolo compressor das bases partidárias liderado na época pelo deputado federal Ronaldo Caiado. Goiás ficou no prejuízo. Depois, passou pela pequeneza da prefeitura de Goianésia por duas vezes e terminou infelizmente em um desacerto, como 1º suplente da equivocada candidatura de Marconi ao Senado, neste ano.

A declaração a favor de Lula é uma recuperação da biografia de Jalles Fontoura, de comprometimento democrático e progressismo. E um alerta para o grande empresariado goiano, no momento mergulhando de cabeça no triste delírio bolsonarista, a exemplo do seu irmão Otavinho. Esse, só falta andar por aí vestindo terno verde e gravata amarela, como o bobo da corte Luciano Hang, farda ideal para a maioria dos representantes classistas de Goiás.