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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

09 dez

A ponte de safena de Caiado e o trator que atropelou João Figueiredo

Em 1983, o general João Figueiredo, último presidente da República do regime militar, foi a Cleveland, nos Estados Unidos, para se submeter a uma operação revascularização do miocárdio, ou seja, a pouco conhecida, naquele momento, cirurgia para implantação de ponte de safena – mais ou menos a mesma que o governador Ronaldo Caiado recebeu agora.

“Estou me sentindo como se tivesse sido atropelado por um trator”, disse Figueiredo, ao acordar. Na época, a ponte de safena era um verdadeiro bicho papão. Primeiro nos EUA, foi sendo levada para o resto do mundo, chegou ao Brasil e aos poucos foi perdendo a mística negativa – quem ia para a cirurgia costumava se despedir para a família e colocar os olhos na eternidade. Tornou-se rotina, até ser substituída pelos populares stents, que alcançam o mesmo fim, ou sejam, desobstruem a circulação arterial com uma facilidade muito maior, sem qualquer trauma, através do cateterismo.

Em situações específicas, no entanto, quando há dúvidas ou limites para a eficácia dos stents, a ponte de safena ainda é recomendada. Mas, com o avanço e o aperfeiçoamento das técnicas e materiais cirúrgicos, o impacto é bem menor do que antigamente. Em poucos dias, vida normal, inclusive com a recomendação de exercícios físicos – claro, modulados de acordo com a faixa etária do paciente. Nada mais a ver com a metáfora do trator que atropelou João Figueiredo. Caiado voltará ao trabalho em poucos dias, sem restrições, a não ser as que são normais para a sua idade.