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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

13 dez

Cotação de Cristiane Schmidt é superior à de Ana Carla

O presidente eleito Lula da Silva está encurralado pela necessidade de suprir seu Ministério com mulheres e negros, cumprindo uma promessa de inclusão que teve força dentro do seu discurso de campanha ao propor uma diferenciação quanto a misoginia e ao racismo inerentes ao governo de Jair Bolsonaro.

Não vai ser fácil. O PT é um poço até aqui de mágoas e ressentimentos e, desconfia-se, Lula também. Mulheres e negros que poderiam ocupar pastas na Esplanada, em Brasília, são vetados e alvo da desconstrução vazada das equipes de transição, dominadas pelo petismo, por um lado atrás de fidelidades históricas ao partido e por outro preocupado com ameaças para a sua futura permanência no poder.

Na busca por nomes femininos de expressão, acabou ganhando destaque a economista Cristiane Schmidt(à esquerda), secretária de Economia do governador Ronaldo Caiado e avaliada unanimemente como a melhor dentre todos os Estados brasileiros. Cogita-se da sua indicação para o Ministério do Planejamento, ou, no mínimo, para alguma secretaria de destaque do Ministério da Economia, talvez até a Secretaria do Tesouro Nacional, a mais importante, ao lidar diretamente com a questão do equilíbrio fiscal dos entes federativos.

Graças ao seu currículo acadêmico e à pasta sob sua direção em Goiás, Cristiane Schmidt tornou-se uma perita nesse assunto, vital em qualquer governo, ainda mais em um, como o de Lula, herdeiro de um cenário desbalanceado nas contas públicas. Pesaria contra ela o fato de não ter convivência com o petismo e até a acusação de ser “guedista”, isto é, ligada ao atual czar da economia Paulo Guedes, ambos os fatores não passando de uma grande estupidez quando se trata de uma economista para lá de qualificada e preparada para desempenhar missões de ponta em qualquer gestão federal.

Especulou-se que Cristiane Schmidt estaria sendo confundida com a ex-secretária estadual de Fazenda Ana Carla Abrão Costa(à direita), por dois anos no último mandato de Marconi Perillo. Não é bem assim. Ana Carla igualmente tem sido lembrada e para as mesmas posições no Lula 3, embora com cotação menor, principalmente quando se comparam os currículos – a experiência no setor público da atual secretaria goiana é muito maior que a da sua antecessora, especializada em administração de carteiras privadas de investimentos, um campo profissional do qual Schmidt sempre manteve distância. De resto, Ana Carla também não ostenta nenhuma conexão com o petismo, embora menos ainda com Paulo Guedes.

Compare-se o saldo das duas na pasta que, mesmo tendo mudado de nome no governo de Ronaldo Caiado, é a mesma, isto é, a da Fazenda. Ana Carla permaneceu por dois anos no cargo, fracassou na tentativa de consertar a anarquia dos incentivos fiscais, não conseguiu levar adiante a Lei de Responsabilidade Fiscal estadual e jogou o pagamento do funcionalismo para o décimo dia útil do mês subsequente, exceção para quem recebia até R$ 3 mil, mesmo assim somente no quinto dia. Cristiane Schmidt está na secretaria há quatro anos, regularizou a política de incentivos fiscais, reduziu os pagamentos da dívida para uma mixaria, produziu os primeiros superávits anuais da história de Goiás, passou a quitar a folha dentro do mês e recuperou a sintonia entre receitas e despesas, com as últimas, no momento, abaixo das primeiras, algo nunca visto antes na história administrativa do Estado. Claro, teve o apoio decisivo e a cobertura do prestígio de Caiado em Brasília, porém seus méritos são indiscutíveis.

A diferença é colossal. Se Lula avançar com a hipótese de aproveitar uma delas e se depender de um eventual cotejo, Cristiane Schmidt leva fácil.