Vida e morte de dona Iris, a primeira-dama que plantou a semente dos programas sociais em Goiás
É costume em Goiás a santificação dos mortos. Foi assim com Maguito Vilela e com Iris Rezende, transformados em heróis da sociedade depois que passaram desta para uma melhor, a ponto de ter sido aprovada uma lei municipal autorizando o gasto de recursos públicos em um memorial em homenagem a Iris. É evidente exagero e mesmo uma ilegalidade. Mas, em Goiás, é esse o jeito.
A canonizada da vez é dona Iris Araújo. Este blog diria que ela merece mais, não somente uma convencional reverência pelo papel exercido na política e dentro do chavão de primeira-dama preocupada com os pobres. Dona Iris, de fato, foi além da função de consorte do governador – antes dela, todas no seu lugar apenas juntavam as esposas de secretários para bordar enxovais para bebês e promover chás culturais ou beneficentes. Até Lúcia Vânia seguiu essa sina, reinventando-se depois para se emancipar dessa subordinação e liderar por um tempo a vanguarda política das mulheres goianas, reconheça-se, com méritos de sobra a partir de então.
Dona Iris tinha língua de fogo. Encontrou nas redes sociais o caminho para dar vazão à sua franqueza natural e a uma certa agressividade, cujo alvo maior foi Marconi Perillo. Nunca se conformou com as derrotas do marido diante do tucano e usou palavras ácidas na tentativa de dar o troco. Um equívoco, quando deveria discutir políticas públicas, em especial as sociais. Nessa área, quando estava no poder, não foi tão longe quanto, por exemplo, uma Gracinha Caiado, disparadamente a primeira-dama com maior e mais intensa presença na formulação e implantação de programas destinados a amenizar a vida da população carente do Estado. Plantou as sementes, no entanto, e essa é a marca que ficou para a história.
Pode ter sido uma questão de época. Todos sabem que Iris sempre priorizou investimentos em infraestrutura, seu carimbo para a posteridade. Fez muito pouco pelos necessitados que habitavam Goiás nos seus governos, inclusive, recentemente, como prefeito de Goiânia. Não havia um único programa social, nenhum. Ainda assim, nos dois mandatos de Iris como governador, dona Iris fundou a Legionárias do Bem-Estar Social, precursora da hoje poderosa OVG comandada por Gracinha. Saiu dos convescotes entre madames para dar início ações massivas, embora sem maior abrangência. Fez isso, contudo. É o seu mérito, do qual, talvez, nem tivesse consciência, já que há anos e anos não falava no assunto.
De resto, dona Iris foi a primeira-dama pioneira a abrir estadualmente a hoje consolidada participação das mulheres na vida dos seus respectivos cônjuges enfiados até o pescoço na política: Janja, Michele Bolsonaro, Valéria Perillo até certo ponto, Gracinha, Raquel Rodrigues (sim, a mulher de Alcides Rodrigues foi atuante na gestão). Espontaneamente, a mídia se vira para elas. E elas, em definitivo, não foram e são do lar e Iris Araújo ajudou nessa construção. Merecidamente, ganhou um lugar na história de Goiás.