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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

15 maio

Marconi joga fora mais uma oportunidade na entrevista com Jackson Abrão

No final da entrevista desta segunda, 15, ao apresentador Jackson Abrão, transmitida ao vivo pelo portal de O Popular, o ex-governador Marconi Perillo pediu desculpas caso alguma das suas respostas não tivesse sido completa ou não atendesse as expectativas dos leitores do jornal. Fez bem. O tucano, mais uma vez, desperdiçou a oportunidade de se explicar sobre o seu passado e de mostrar ainda contar com algum futuro. Reprisou o Marconi dos bons tempos de poder absoluto em Goiás, com uma diferença óbvia: hoje, está na rua da amargura, seu partido tornou-se nanico, os antigos aliados desapareceram e ele agora carrega nas costas duas derrotas eleitorais retumbantes.

O que se esperava do ex-governador é o que ele se recusa a enfrentar desde o desastre inicial de 2018, quando ficou em 5º lugar para o Senado: uma autocrítica. Ou, no mínimo, uma análise crível da sua ascensão e queda, tão inesperada uma quanto surpreendente a outra. Não há muitas lideranças de peso, pelo país afora, com um currículo parecido, em que a glória se converteu tão bruscamente em aniquilação. Isso merecia uma mais avaliação mais aprofundada, mas Marconi se nega a responder a esse desafio.

Seria bom para a sua carreira. Mostraria humildade, ao contrário da sua convicção sobre se candidatar a governador em 2026 baseado no seu “legado”, essa bobagem a que governantes apeados do poder se apegam para cobrar gratidão do eleitorado, obrigado a elegê-los para sempre. Marconi citou como obras cruciais, nos seus governos, o CRER, o HUGOL e a atração de indústrias, segundo ele “de ponta”, para Goiás. Iris Rezende tinha esse mesmo hábito. Chegava ao cúmulo de alegar ter pavimentado o setor Coimbra, de cujas ruas sem asfalto provavelmente nenhuma goianiense ou nenhum goianiense se lembra. Citava eternamente a implantação da infraestrutura do Estado, por ter construído rodovias modernas onde só havia caminho de burro, verdade, sim, mas esquecida.

O maior cacique do emedebismo em Goiás perdeu sucessivas eleições entoando essa ladainha. Marconi deveria ter aprendido e não repetir o mesmo erro. Vão lá no site de O Popular, amigas e amigos, e confiram a entrevista. O ex-governador só olha no retrovisor. Não é capaz, por exemplo, de fazer uma crítica mínima ao governador Ronaldo Caiado, cujo nome, aliás, não citou nem uma única vez. Com a experiência de quatro mandatos, caberia formular um projeto alternativo de governo, mesmo resumido ou incompleto. Mas, não. Marconi pretende ser candidato ao Palácio das Esmeraldas, daqui a quatro anos, para repetir a toada das suas administrações dantanho. Por conta, como disputou duas vezes o Senado e dançou, do tal “legado”.

 

É sabido que Caiado zerou a oposição em Goiás. Parte, pela sua competência como articulador político. E parte pela incompetência dos adversários. Esse último item salta claro na entrevista do ex-governador a Jackson Abrão, ainda que favorecido por perguntas amigáveis. Se estivesse encastelado no Palácio das Esmeraldas, o falatório de Marconi teria todo sentido. Como passou a habitar a planície, dá mais a impressão de padecer da falta bom senso para compreender o seu próprio drama.