Marconi joga fora mais uma oportunidade na entrevista com Jackson Abrão
No final da entrevista desta segunda, 15, ao apresentador Jackson Abrão, transmitida ao vivo pelo portal de O Popular, o ex-governador Marconi Perillo pediu desculpas caso alguma das suas respostas não tivesse sido completa ou não atendesse as expectativas dos leitores do jornal. Fez bem. O tucano, mais uma vez, desperdiçou a oportunidade de se explicar sobre o seu passado e de mostrar ainda contar com algum futuro. Reprisou o Marconi dos bons tempos de poder absoluto em Goiás, com uma diferença óbvia: hoje, está na rua da amargura, seu partido tornou-se nanico, os antigos aliados desapareceram e ele agora carrega nas costas duas derrotas eleitorais retumbantes.
O que se esperava do ex-governador é o que ele se recusa a enfrentar desde o desastre inicial de 2018, quando ficou em 5º lugar para o Senado: uma autocrítica. Ou, no mínimo, uma análise crível da sua ascensão e queda, tão inesperada uma quanto surpreendente a outra. Não há muitas lideranças de peso, pelo país afora, com um currículo parecido, em que a glória se converteu tão bruscamente em aniquilação. Isso merecia uma mais avaliação mais aprofundada, mas Marconi se nega a responder a esse desafio.
Seria bom para a sua carreira. Mostraria humildade, ao contrário da sua convicção sobre se candidatar a governador em 2026 baseado no seu “legado”, essa bobagem a que governantes apeados do poder se apegam para cobrar gratidão do eleitorado, obrigado a elegê-los para sempre. Marconi citou como obras cruciais, nos seus governos, o CRER, o HUGOL e a atração de indústrias, segundo ele “de ponta”, para Goiás. Iris Rezende tinha esse mesmo hábito. Chegava ao cúmulo de alegar ter pavimentado o setor Coimbra, de cujas ruas sem asfalto provavelmente nenhuma goianiense ou nenhum goianiense se lembra. Citava eternamente a implantação da infraestrutura do Estado, por ter construído rodovias modernas onde só havia caminho de burro, verdade, sim, mas esquecida.
O maior cacique do emedebismo em Goiás perdeu sucessivas eleições entoando essa ladainha. Marconi deveria ter aprendido e não repetir o mesmo erro. Vão lá no site de O Popular, amigas e amigos, e confiram a entrevista. O ex-governador só olha no retrovisor. Não é capaz, por exemplo, de fazer uma crítica mínima ao governador Ronaldo Caiado, cujo nome, aliás, não citou nem uma única vez. Com a experiência de quatro mandatos, caberia formular um projeto alternativo de governo, mesmo resumido ou incompleto. Mas, não. Marconi pretende ser candidato ao Palácio das Esmeraldas, daqui a quatro anos, para repetir a toada das suas administrações dantanho. Por conta, como disputou duas vezes o Senado e dançou, do tal “legado”.
É sabido que Caiado zerou a oposição em Goiás. Parte, pela sua competência como articulador político. E parte pela incompetência dos adversários. Esse último item salta claro na entrevista do ex-governador a Jackson Abrão, ainda que favorecido por perguntas amigáveis. Se estivesse encastelado no Palácio das Esmeraldas, o falatório de Marconi teria todo sentido. Como passou a habitar a planície, dá mais a impressão de padecer da falta bom senso para compreender o seu próprio drama.