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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

27 jun

Falta uma obra símbolo – um “viaduto” – a Rogério Cruz. E não há mais tempo para fazer

Todo governante estrategista e consciente sabe: uma boa gestão é geralmente caracterizada por obras de grande porte e inovadoras o suficiente para simbolizar a sua passagem pelo poder. Algo, enfim, à altura para dar uma identidade forte a um período administrativo, construir um legado e impedir a predominância de fatos negativos, que sempre sobrevêm e ocupam o espaço em caso de ausência de uma imagem positiva.

Nesse particular, Iris Rezende foi o mestre maior. Mutirões. Mil casas em um dia. Os primeiros viadutos de Goiânia. A eletrificação rural e as rodovias. E assim por diante, configurando a marca do governador e do prefeito realizador, com ênfase para obras de infraestrutura. Iris era isso e, mesmo depois de passar desta para uma melhor, continua sendo isso, em termos do que deixou para a posteridade.

Mas nem sempre são necessárias obras físicas para a definição de um selo de qualidade para um político. Maguito Vilela recorreu à distribuição de cestas básica para dar ao seu nome uma característica imaterial, para sempre, ou seja, a vinculação a uma prioridade para as políticas sociais. E conseguiu. Em 2020, foi sob essa chancela – a preocupação com os pobres – que ele disputou e ganhou a prefeitura de Goiânia.

Rogério Cruz, padecendo em praça pública a agonia de procurar um argumento para justificar a sua reeleição, permitiu que se escoassem dois anos e meio do seu mandato sem gerar um reles emblema para os seus dias sentado na cadeira número do Paço Municipal. Aparentemente, existe na atual prefeitura uma miríade de pequenos avanços, nada significativo o bastante para criar um carimbo e atestar o sucesso do prefeito. Ele até implantou programas sociais, porém sem ênfase (prometidos na campanha por Maguito, aliás), e concluiu alguns projetos infraestruturais de Iris, sem, contudo, se apropriar de nada a favor da sua própria proeminência. O crédito, daí, não foi para ele.

A um ano e poucos meses das urnas de 2024, é provável não haver mais tempo para reagir e buscar uma alegoria convincente para atrair os votos das goianienses e dos goianienses a favor de mais um mandato. A essa altura, o que não foi feito, não será. E, para piorar, não se vislumbra qualquer coisa iniciada para ser concluída nos próximos meses e revolucionar para melhor a representação de Rogério Cruz no imaginário da cidade. O prognóstico para o ano que vem, portanto, não é nada bom para ele. Corresponde à obrigação de tirar um coelho da cartola – sem a cartola e sem o coelho.