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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 jan

Chances de Adriana Accorsi são reais, apesar da maioria bolsonarista em Goiânia

A deputada federal Adriana Accorsi, mesmo do PT e mesmo enfrentando a aparente maioria bolsonarista dentro do eleitorado de Goiânia, tem chances reais de se eleger para o Paço Municipal em outubro próximo. Duas vantagens tornam Adriana uma candidata viável: o fato de ser mulher e a condição profissional de delegada da Polícia Civil, em uma época de empoderamento feminino e de valorização da segurança pública. Essa combinação, que o próprio governador Ronaldo Caiado reconheceu ser atrativa em conversa com uma fonte deste blog, pode ser decisiva para a parlamentar petista.

Ora, direis, e a predominância do bolsonarismo em Goiânia, patenteada com clareza no pleito presidencial de 2022, quando Jair Bolsonaro faturou 64% dos votos, quase o dobro de Lula, esse sem ultrapassar os 36%? A resposta é: sim, esse indicativo mostra que Adriana Accorsi vai enfrentar um ambiente político e social em tese desfavorável, a depender, contudo, dos fatores no final das contas a influenciar as urnas: se, por um lado, persistirá a polarização ideológica ainda viva no país ou, por outro lado, se a escolha do novo prefeito será pautada pela preocupação com os problemas locais e a exigência de um gestor com perfil de gerente capacitado.

A própria Adriana, tudo sugere, acredita na ingerência eleitoral da polarização ideológica em outubro vindouro. E faz bem. Não é outra a explicação para o convite que fez ao empresário e presidente da FECOMÉRCIO Marcelo Baiocchi para figurar como vice na sua chapa. Baiocchi é bolsonarista roxo. Nunca escondeu essa preferência. Sua escalação ao lado da petista seria surpreendente. Provocaria a repulsa das alas mais radicais do partido, insignificantes, contudo, sem condições de impedir ou atrapalhar a inusitada aliança. Haveria mais benefícios eleitorais e quase nenhum prejuízo para a filha de Darci Accorsi. Ao contrário, ela cresceria como uma liderança esclarecida e disposta ao diálogo com todas as correntes da sociedade.

Aparentemente, foi uma iniciativa acertada. Eleições vencem-se com pragmatismo e foi essa a vontade que Adriana demonstrou. A chapa híbrida de esquerda e direita, quem sabe, pode ser capaz de atrair parte dos votos bolsonaristas ou mesmo conseguir amenizar a campanha contra uma prefeita dita progressista. Seria uma primeira “vitória”. A deputada deixa também patente seu espírito aberto ao acenar para o empresariado, escolhendo como companhia um dos seus representantes mais atuantes na capital (e mais bolsonarista). Aceitando ser o vice-prefeito, Marcelo Baiocchi mandaria uma mensagem inequívoca, dentro da visão de eleições municipais longe das ideologias e se focar nos desafios e nas necessidades de um centro urbano cada vez mais metropolizado, argumento capaz de justificar o seu gesto inovador de ombrear-se com uma suposta adversária do campo das ideias. Ponto para Adriana. E mais um passo para dar a Goiânia a primeira prefeita da sua história.