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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

23 jan

De traição em traição, Vanderlan dá com os burros n’água

Mesmo com o na época presidente estadual do PSD Vilmar Rocha candidato ao Senado, Vanderlan Cardoso, filiado à legenda, deu as costas e partiu para apoiar Wilder Morais, do PL (no final das contas, o vencedor), na eleição de 2022. Sua mulher, Izaura, acompanhava Wilder como 1ª suplente. Foi mais uma manifestação do tradicional estilo solitário e independente de Vanderlan, um político estranho e descomprometido face aos padrões convencionais largamente históricos em Goiás, entre os quais a fidelidade é altamente valorizada, com atuação visando apenas interesses particulares e enxergando os processos partidários ou coletivos como um campo onde a gratidão e a reciprocidade simplesmente não têm o menor valor.

Recusar-se à campanha de Vilmar Rocha foi mais uma deslealdade na longa trajetória de “traições” do senador. Apoiado pelo governador Ronaldo Caiado na corrida pela prefeitura de Goiânia em 2020, na sequência deu uma solene banana para a reeleição de Caiado, preferindo se engajar de corpo e alma na aventura amalucada do estranho no ninho Major Vitor Hugo – o Major, como esperado, acabou em fiasco, classificando-se em 3º lugar, a bordo de reles 500 mil votos para o Palácio das Esmeraldas (Caiado teve mais de 3 vezes mais, beirando os 2 milhões de sufrágios).

 

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Motivos para descumprir acordos, explícitos ou implícitos, Vanderlan sempre arranja. Para não devolver a Caiado o valioso aval recebido em Goiânia em 2020, aliás contra Maguito Vilela, o senador inventou uma desculpa: a de que Daniel Vilela fora escolhido como vice sem que ele, Vanderlan, tivesse sido consultado. Não tem sentido. Por que Caiado seria obrigado a ouvir a opinião de alguém com quem nunca teve proximidade e em relação ao qual sua prática política é completamente diferente? Jamais. O governador montou a chapa com Daniel, incluiu o MDB no seu arco de alianças e passou como um trator sobre a oposição e os descontentes, faturando fácil o 2º mandato já no 1º turno. Nessa equação, Vanderlan não tinha lugar.

De forma inusitada, há alguns dias, Vanderlan reclamou choroso de ser alvo de um “isolamento”. Sim, porque quedou-se sozinho na tentativa de estruturar a sua 3ª candidatura a prefeito de Goiânia. O próprio PSD, seu partido, avisou não ter a intenção de o acompanhar. Aliás, é a chance aguardada pelo grupo de Vilmar Rocha para dar o troco na rasteira da disputa senatorial de 2022. E vai dar. Dessa vez, o senador só leva o pouco que resultar de outra “traição”, a do deputado federal Ismael Alexandrino, fabricado por Caiado, mas cabeça tonta e muito provavelmente uma criatura disposta a se voltar contra o seu criador para dar uma força a Vanderlan.

Política não tem segredos nem milagres. Vanderlan, pelas suas próprias contradições, caiu em um vácuo de difícil superação. Plantar é opcional, porém colher, obrigatório, situação em que ele se encontra agora. Tanto que, em desespero, pariu como reação a hipótese esdrúxula de aliança com o PT e comprometimento com a deputada federal Adriana Accorsi. Se esse mostrengo nascer, representará nada mais nada menos que uma cova profunda aguardando pelo enterro do senador. E possivelmente nem sequer garantirá qualquer rendimento para a petista que representa tudo a que ele se opõe. Ao contrário, pode é impor prejuízos a ela.