Candidatos a prefeito de Goiânia se igualam na falta de propostas
O que oferecem para a população os candidatos mais cotados a prefeito de Goiânia? A se julgar pelas entrevistas, declarações e manifestações a cada dia, a pouco mais de cinco meses para data da das eleições, quase nada em matéria de propostas ou de visão de futuro para o maior centro urbano do Estado. São cotados, desde já, Adriana Accorsi (PT), Vanderlan Cardoso (PSD), Gustavo Gayer (PL) e Sandro Mabel (UNIÃO BRASIL). Por fora, corre o prefeito Rogério Cruz, em busca de uma reeleição desafiadora, mas longe de ser considerada impossível.
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Regra geral, nenhum deles mostrou ainda o pretendido para Goiânia. Cruz leva vantagem: a continuidade da sua gestão seria obviamente o conteúdo obrigatório de mais um mandato. E os seus dons pessoais de humildade e sinceridade podem pesar a favor. No geral, no entanto, o que pensa essa plêiade de postulantes em termos de infraestrutura? Trânsito? Cultura? Saúde? Uma vida melhor na capital, enfim. Não se há informações. Que ideias exatamente têm e defendem, ignora-se. Uma pequena metrópole, como Goiânia, mereceria mais. Vamos raciocinar juntos, leitoras e leitores: por que votar em Adriana Accorsi? Idem em Vanderlan, Gayer ou Mabel? No Rogério, pelo menos quem quiser mais do que aí está (e é possível encontrar alguns avanços, além do prefeito mostrar a virtude de ser um estoico sem a mínima arrogância, ao contrário da concorrência em maior ou menor grau).
Ao se propor como a primeira mulher a assumir o Paço Municipal, Adriana Accorsi precisaria ir mais adiante e falar de metas concretas, porém… não vai. É dela que se cobra com mais ênfase, em razão do seu potencial revolucionário de gênero para uma administração historicamente machista. No entanto, a petista é tímida. Só se preocupa em refutar a prevalência da polarização ideológica no pleito a se avizinhar e sublinhar a importância da questão gerencial. Parece, no fundo, ter vergonha ou receio dos prejuízos em representar a esquerda, em um momento em que o Ipec (antigo Ibope) revela em pesquisa recente que 18% dos brasileiros se dizem de esquerda, 28% e centro e 41% de direita — ou seja, a direita tem 23% a mais de eleitores do que a esquerda. Como agravante, insira-se esses números na capital de um Estado historicamente conservador, onde Jair Bolsonaro venceu Lula em 2022 batendo perto de 70% dos votos.
E Vanderlan? O que ele pretende para Goiânia, além da sua suposta capacidade como gestor, testada com sucesso em uma cidade – Senador Canedo – que perde em população para um bairro gigante como o Jardim América, como lembrou Iris Rezende em um debate? Navegar bem por uma realidade urbana “reduzida” em comparação a um núcleo urbano massivo não é a credencial ideal. Sucesso empresarial também não: negócios públicos são diferentes dos privados. Infelizmente, enquanto distribui tratores pelos municípios afora e atua como despachante de verbas federais para instituições de caridade, o senador segue omisso quanto aos seus planos para a maior aventura da sua carreira solitária. E revela, como disse oportuna e criativamente o candidato da base governista Sandro Mabel, uma certa gulodice ao lançar a própria mulher, simultaneamente, para concorrer à prefeitura de Senador Canedo, talvez um empreendimento político-familiar inédito na história de Goiás em termos de uma única eleição e cargo similar (uma cutucada que vai fundo e antecipa os ataques que Vanderlan vai sofrer na campanha).
Gustavo Gayer, enquanto isso, vai bem. Muito bem. É um dos candidatos a prefeito de Goiânia cotados em 1º lugar nas pesquisas (os outros são Adriana Accorsi e Vanderlan). Fala e já começou a fazer campanha completamente fora da caixa, impulsionado pelo extremismo bolsonarista de parte significativa das goianienses e dos goianienses. Atenção: é melhor observar e acompanhar Gayer de perto. Ele tem chances, é um mestre em chamar atenção e, goste-se ou não dele, seu significado e simbolismo são a renovação, o mais consistente quanto a esse viés dentre todos os postulantes ao Paço Municipal. Digamos mesmo renovação total e radical – o que sempre exerce uma atração o especial sobre o eleitorado.
Restou Sandro Mabel. Até agora, não decolou e não deu sinais de que vai conseguir representar com êxito a aliança liderada pelo governador Ronaldo Caiado e seus 86% de aprovação pelo Estado afora, inclusive na capital. Uma coleção de gafes, que não cessa nunca, despertou suspeitas sobre a sua viabilidade, mas, ainda assim, ele segue vítima da própria língua (aliás, postou um incrível vídeo “lambendo” uma cachorrinha de estimação e pedindo a ela um “beijo molhado). E insiste em destacar o enorme sacrifício que fará deixando a sua boa vida de milionário para descer ao mundo dos mortais para administrar Goiânia. Sim, Gayer também falou em “sacrifício”. Em sua defesa, ressalte-se ter se referido ao mandato de deputado federal, para o qual enxerga o compromisso com uma missão delegada pelos mais de 200 mil votos recebidos para a Câmara. Nada a ver com o abandono de uma situação individual privilegiada, caso de Mabel. E, de resto, tal como Mabel, nem Adriana nem Vanderlan nem Gayer mencionaram até hoje qualquer proposta ou visão de futuro para a maior cidade do Centro-Oeste brasileiro, com a exceção já explicada de Rogério Cruz. O que temos, por ora, é um vazio.