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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

21 maio

Excesso de críticas e conselhos indicam que Mabel ainda não colou

Desde a sua consagração como candidato da base governista a prefeito de Goiânia, o megaempresário, ex-deputado federal e atual presidente da Federação das Indústrias – FIEG Sandro Mabel tem enfrentado uma saraivada de críticas – quase sempre acompanhadas de palpites e sugestões, às vezes maliciosas, sobre o que poderia fazer para se tornar um nome competitivo na corrida praticamente já iniciada pelo comando do Paço Municipal. Mabel passou a viver debaixo de um astral negativo, impulsionado pelas suas próprias declarações desastrosas e em alguns momentos arrogantes, compondo uma imagem de político arcaico e dominado por padrões superados e longe da modernidade exigida para a administração de uma pequena metrópole como a capital goiana.

Tudo isso confirma: o “rosquinha”, como ele mesmo ingenuamente contou que o ex-presidente Jair Bolsonaro o chama, ainda não se afirmou como piloto de um projeto eleitoral que, até agora, tem apenas o apoio do governador Ronaldo Caiado como trunfo. Caiado conquistou praticamente a metade dos votos de Goiânia para a sua recondução ao Palácio das Esmeraldas em 2022 e segue contando com 86% de aprovação entre as goianienses e os goianienses, um encosto com o qual, ninguém contesta, se torna obviamente mais fácil para qualquer interessado chegar a uma vitória nas urnas de outubro vindouro.

Por que Mabel não decola? Ou sequer cola como candidato? Pior: por que, mesmo destinado a representar no pleito deste ano o mais poderoso grupo de partidos e de lideranças do Estado, continua sendo apresentado como carente de uma visão centrada sobre o núcleo urbano que quer administrar, tendendo mais a ser encarado como uma figura excêntrica e détraqué? Por que a mídia o trata como alguém abaixo da missão que se propõe a cumprir? E por que, no final de tudo, ele mesmo não se preocupa em reagir a essa depreciação do seu potencial, para o que inegavelmente contribui falando pelos cotovelos e produzindo com suas palavras um bestiário fatal, tal como ao afirmar que a filha de Iris Rezende, Ana Paula, seria uma boa vice porque tem um marido com elevada qualificação como homem de negócios bem-sucedido?

 

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O ponto principal é que, exceto o aval de Caiado, Mabel ainda não conseguiu demonstrar possuir altura para se sentar no trono do alto do Park Lozandes. Outro dia, uma nota infiltrada na coluna Giro, em O Popular, vendia a tese de que existiriam preocupações palacianas com a viabilidade do candidato e que teriam surgido dúvidas sobre se ele seria capaz de deslanchar. Isso dá uma ideia sobre a falta de consideração a cercar a sua pessoa e o seu posicionamento no contexto da disputa municipal a se aproximar. Falta alguma coisa. E ele contribui para manter acesa a descrença com as suas possibilidades de vencer em um colégio de votantes tradicionalmente hostil com personagens parecidas com a sua e de difícil compreensão quanto as expectativas alimentadas a respeito de um prefeito, no qual o PT já faturou alto com Darci Accorsi, Pedro Wilson e Paulo Garcia e só abriu divergência ao optar por quatro vezes, em tempos recentes, por um medalhão como Iris Rezende.

Tem tanta gente dando conselhos de graça para o Sandro que salta patenteada uma completa ausência de convicções sobre as suas chances. Um dos pitacos mais recorrentes é a recomendação para a escolha de um companheiro (ou companheira) de chapa com perfil agregador, como decorrência da impressão subjacente de que, por si só, ele não dispõe de motores para voar alto. Mas, nas opiniões gratuitas, nos relatos fidedignos e inclusive nas desconfianças em abundância escritas ultimamente em torno de Mabel, podem ser encontradas muitas verdades. Uma delas é que, como está, o “rosquinha” não irá longe.