Marketing de Braga reinventa Adriana Accorsi e isso pode ser a ruína dela
Soam como empulhação as imposições do marketing da campanha de Adriana Accorsi para transformar a candidata em um produto supostamente aceitável pela maioria do eleitorado, porém falsificado, que renega as suas origens e tenta enganar as eleitoras e os eleitores com uma embalagem que não corresponde absolutamente ao perfil construído pela petista durante toda a sua carreira política. Adriana agora vai ser apresentada envolta pela cor lilás, sem o epíteto de “Delegada” historicamente agregado ao seu nome e usado, inclusive, como sua cognominação oficial na Câmara dos Deputados.
São simbologias que falam alto. A transformação é ideia do marqueteiro Jorcelino Braga, provando, assim, que tem um poder de persuasão inimaginável, ao induzir pessoas boas a protagonizar ações contraproducentes para si próprias. Braga repete o mesmo com Antônio Gomide, em Anápolis. Gomide e Adriana estão sendo repaginados para negar as suas origens, sob a crença de que o antipetismo em Goiânia e em Anápolis é uma barreira insuperável. Não é. A prova maior está no 1º lugar de Adriana Accorsi na pesquisa do Serpes, há poucos dias. E Gomide disparado na frente, em todas os levantamentos. Com o PT e tudo o mais, inclusive as tradicionais roupas vermelhas, no caso da deputada, usadas quase diariamente, ela chegou lá, consolidando-se em certeza inelutável para combater pelo voto no 2º turno inevitável que vem aí. Sem falar que o PT goiano é muito melhor que o do resto do país, sem escândalos e sem contradições na sua história.
Nas duas derrotas para a prefeitura da capital, Adriana teve o pior resultado em 2016, quando, igualmente, trocou o seu visual escarlate pelo enquadramento em tons de rosa. A adoção, agora, do lilás, na verdade um rosa acentuado, tem o objetivo fajuto e explícito de conectar a candidata com algo que ela já tem de sobra: o perfil de mulher batalhadora, engajada na afirmação do poder feminino. Isso não depende de nenhuma policromia. É questão de conteúdo, de comportamento afirmativo, coisa que sempre foi a marca predominante da petista e deveria ser priorizado na campanha, em vez colocar sua credibilidade em xeque ao tentar esconder o que ela de fato é e provavelmente Adriana só ganhará sendo o que é e não o que não é.
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Tirar o “Delegada” do nome de Adriana é de uma burrice extrema. Isso saiu de apurações dos grupos ouvidos nas pesquisas qualitativas, em que surgiram analogias negativas com outros delegados que atuam na política estadual de modo trêfego e excêntrico, como o Waldir, o Humberto Teófilo e o Eduardo Prado, todos com alguma dose de bizarria. Mas conclusões de pesquisas qualitativas não devem ser levadas a ferro e fogo e, sim, interpretadas em sentido amplo. São pontos de partida, não sentenças irrecorríveis. Se fosse assim, Marconi Perillo não teria se lançado para derrotar Iris Rezende em 1998. Os grupos de discussão diziam que seria inútil, declarando Iris vencedor antecipado. Marconi contrariou, levou a sua proposta de renovação à sociedade, e venceu. Às vésperas das urnas, os levantamentos qualitativos haviam mudado e reproduziam o conceito de que a sua vitória a partir da nova situação criada por ele representaria um avanço. E foi.
Não se pode ler pesquisas no modo estático. “Delegada” antes de Adriana humaniza e coloca a serviço da população uma profissional que teve uma trajetória brilhante na Polícia Civil. É como o “coronel” esgrimido pelos adversários na tentativa de criticar o governador Ronaldo Caiado, que só o engradece: quem mais, senão um “coronel”, duro na queda, poderia resolver, como resolveu, o desafio da segurança pública em Goiás. Ao renunciar ao “Delegada”, Adriana Accorsi perde também todo o influxo positivo da sua associação com as políticas para levar paz e tranquilidade para as goianienses e os goianienses, mesmo que se trate de um assunto da esfera de competência estadual.
Por fim, há um quê de trapaça em uma manobra ostensivamente desencadeada com o objetivo exclusivo de ocultar características que, se estão sendo varridas para debaixo do tapete depois de reconhecidas como desfavoráveis. Integrar o PT que elegeu prefeitos como Darci Accorsi, Pedro Wilson e Paulo Garcia é negativo? Não pode ser e não é, ainda mais um PT que é diferenciado do resto do país, sem nunca ter sido envolvido em escândalos e longe de posturas dogmáticas. Trabalhar como policial também foi uma opção de vida nociva? Não foi. Em resumo, Adriana ter sido e ser tudo o que foi e é acabou sendo um equívoco? Tudo isso é constrangedor para alguém que almeja governar uma potência urbana, social e politicamente evoluída como Goiânia. Ela, a candidata, desceu para aquém de uma linha da qual, ao contrário, tinha que ir muito acima, na autenticidade da sua biografia e na coerência com tudo o que fez até hoje – e não há nada do que se arrepender, como provavelmente se arrependerá de ter cedido ao marketing de sabão em pó que não honra a sua história.