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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

16 ago

Desempenho de Pablo Marçal em SP muda o cenário das eleições no país inteiro

Um meteoro caiu sobre as eleições municipais deste ano no Brasil. Nada mais é como antes. Trata-se do goiano Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo. Em dois debates, ele irrompeu como um furacão e mudou para sempre tudo o que se sabia até hoje sobre estratégias para que candidatos se saíssem bem em confrontos com os adversários ou na sua comunicação com o eleitorado. Marçal é o fenômeno mais disruptivo da história política do país, mais, muito mais até que o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua fantástica vitória contra tudo e contra todos em 2018.

A imprensa está estupefata. Os analistas e cientistas políticos, idem. Os concorrentes, esses então entraram em choque. Marçal teve um desempenho e surpreendente e  incrivelmente acima do esperado, do que seria rotineiro aguardar para um debate eleitoral. Todos os candidatos a prefeito de SP estão hoje se recalibrando. O que existia antes desapareceu em minutos e não existe mais. Se Marçal vai ganhar ou não, são outros quinhentos. Vale é que ele impactou as expectativas sobre as eleições em uma metrópole de peso mundial, ao levar para a televisão o mundo das redes sociais, onde tem milhões de seguidores e é uma estrela.

Marçal fala palavrões e se comporta com o objetivo declarado de produzir recortes de vídeos para massificar nas plataformas onde é dominante. Tanto funciona que ele, do zero, saltou para o 3º lugar das pesquisas, a meros 6 ou 7 pontos dos líderes Guilherme Boulos e Ricardo Nunes. Ele é um lacrador nato que ataca os adversários em termos irrespondíveis, não é exagero afirmar. Beira o inacreditável. Mas está acontecendo, é real. Sua proposta número um é tirar o atual prefeito Nunes. A número dois é impedir que os antagonistas cheguem lá, em especial Guilherme Boulos – esse penando, porque a cada vez que o cita Marça fecha uma narina com um dedo e aspira forte e barulhento com a outra, método de consumo típico dos cheiradores de cocaína. Não há como responder. Simples, porém genial: uma curta mensagem que sintetiza o espírito da sua candidatura e atrai engajamento pelo que representa de protesto contra os políticos e… contra as ideologias.

Para sorte dos postulantes a prefeito nos principais centros urbanos de Goiás, não há nenhum Pablo Marçal por aqui nem ninguém parecido em matéria de QI e de agilidade mental, o que leva à previsão de que os debates em Goiânia, Aparecida, Anápolis e demais cidades de importância transcorrerão sem calor e sem emoção, marcados pelo estilo tedioso da velha política que contamina até pretendentes jovens como Adriana Accorsi na capital ou Márcio Correa em Anápolis. Será mais do mesmo. Em São Paulo, inversamente, as eleições se transformaram em espetáculo e prometem lances verdadeiramente capazes de motivar a população.

 

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A eleição municipal paulistana virou de pernas para o ar. É uma lição para todos os que postulam prefeituras neste ano. Com apenas dois debates, o quadro passou a ser outro. E, aí, sim, as redes sociais adquirem uma tremenda significância. Pablo Marçal, sozinho, tem dezenas de vezes mais seguidores que todos os pretendentes em Goiânia, Anápolis e Aparecida – que, aliás, ostentam números miseráveis em plataformas como o Instagram e o Facebook, portanto, sem o menor potencial para repercutir nas urnas. É cedo para calcular com alguma precisão o desfecho que se dará em SP. Mas já dá para adiantar que as coisas mudaram, com reflexos em todas os grandes colégios eleitorais do país. Enveredar na exposição pela televisão – em debates ou mesmo nos programas do horário gratuito e nas pílulas diárias – dentro de padrões convencionais, com falas monótonas e frias, pior ainda demagógicas, não rende votos. Pode até é ajudar a construir derrotas.