Debate na TBC: 6 candidatos a prefeito e nenhuma proposta inovadora
Foram quatro cansativas horas de debate. Aliás, de debate mesmo, quase nada. Seis candidatos a prefeito de Goiânia compareceram aos estúdios da Televisão Brasil Central na noite desta segunda, 19, para supostamente discutir suas propostas e visões para a capital. Detalhe: no final de tudo, espremido o falatório, o que escorre é um deserto de ideias. Depois da maratona, só é possível se lembrar de duas proposições, ambas inócuas ou fantasiosas, quais sejam as promessas de resolver todas as carências de Goiânia em 100 dias, formulada por Sandro Mabel (UNIÃO BRASIL), e mandar uma carreta para os bairros com atendimento médico de urgência, extravagância do jovem e bem-falante Matheus Ribeiro (PSDB).
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Matheus Ribeiro é o único candidato com domínio do palco e da cena. Expressa-se com absoluta clareza e controla com precisão e naturalidade os preciosos e escassos segundos que lhe cabem. Todos os demais falham nesse mister e acabam desagradavelmente atropelados nos instantes finais do tempo para perguntas e respostas. Depois que Pablo Marçal mudou para sempre a história dos debates eleitorais com a sua participação revolucionária em apenas dois, em São Paulo, beira o insuportável sentar-se à frente da telinha para acompanhar a mediocridade de candidatos dominados pelo tom demagógico da velha política e sofrem para usar as palavras no sentido que elas realmente têm.
Os 100 dias de Mabel são um equívoco: é de se imaginar que as goianienses e os goianienses querem soluções permanentes, não temporárias, como a proposta sugere. A carreta de Matheus é igualmente provisória. De resto, saltou do evento promovido pela TBC a fragilidade de Adriana Accorsi, hoje embrulhada em azul e branco, porém assediada como nunca pelas incongruências do PT venezuelano a que ela dedicou a sua vida e a sua fidelidade – e isso não vai ser apagado, até se voltar contra ela no 2º turno, seja contra quem for, com um tsunami de rejeição, enfrentando Mabel ou Vanderlan.
Fred Rodrigues, o bolsonarista que substituiu Gustavo Gayer, mostrou ser um rascunho malfeito de Pablo Marçal. Sem retórica e sem força para argumentar, desperdiçou todas as oportunidades para crescer em cima de adversários frágeis. Impingiu alguns desgastes a Vanderlan, mas sem potencial para derrubar o candidato do PSD. Vanderlan, velho de guerra de tantas e tantas campanhas, mostrou que não aprendeu as boas lições ou que, se aprendeu, esqueceu-se rapidamente. Sua postura é de arrogância, porém mal emenda uma frase na outra. É difícil entender o que ele diz.
Mabel, como sempre, desperdiça o seu principal ativo – o governador Ronaldo Caiado. O problema é que, para aproveitar esse trunfo em um debate, seria indispensável uma certa competência intelectual. Não é fácil usar essa vantagem sem transparecer submissão e falta de personalidade. O marketing do candidato do UNIÃO BRASIL deve fazer isso com tranquilidade nos programas eleitorais pelo rádio e televisão, que são pensados, planejados e milimetricamente montados. Mabel, de viva voz, de improviso, provavelmente jamais conseguirá. Caiado é o caminho, talvez o único, do Sandro para passar ao 2º turno e vencer, mas essa estratégia depende de uma dosagem que, se for excessiva, fatalmente produzirá efeito contrário.
Finalmente, tem o Rogério Cruz. O prefeito é bom no verbo, humilde e até estoico. Depois de Matheus Ribeiro, é o que melhor abre a boca respeitando os prazos convencionais em debates entre candidatos. O Rogério é convincente e capaz de despejar carradas de informações sobre tudo o que acontece em Goiânia, embasbacando os adversários. Afora o contexto negativo que ele carrega e que impulsiona a sua rejeição até as alturas dos quase 50%, não há dúvida de que tem preparo e, mais ainda, que foi um prefeito com muitas entregas – infelizmente com efeito zero na eleição corrente.
Em um debate como o da TBC, perdem todos. Não há ganhadores, mesmo no caso da excelente performance de Matheus Ribeiro. A falta de brilho é geral. Não foi possível sequer perceber que este ou aquele postulante desenvolve alguma estratégia, visa a esse ou a aquele objetivo, talvez derrubar um antagonista em particular, como deveria ser natural no caso de Mabel e Vanderlan, que concorrem pela 2ª vaga no 2º turno. Não. Eles atuam em modo aleatório, parece que tanto faz e que, se algo tiver que acontecer de favorável a um ou outro, será pelo acaso do destino. Essa, que poderia ser uma das melhores eleições municipais da história de Goiânia, pela qualidade inicial dos envolvidos, parece a caminho de se transformar na pior.