Microdecisões de Caiado são excelentes, mas na visão macro o que se tem é a repetição dos governos passados, ausência de medidas de economia e manutenção do Estado inchado e ineficiente
O governador Ronaldo Caiado tem o seu lado marqueteiro – não foi atoa que ganhou a eleição com votação recorde e em 1º turno. Essa característica tem aparecido com força nas microdecisões do seu governo, todas de forte apelo popular: 1) mandou leiloar dois carros de luxo que serviam ao Palácio das Esmeraldas, 2) abriu mão do seu salário até que o resto da folha de dezembro seja quitado, 3) mudou o nome da Agetop, segundo ele marcada pela corrupção, para Goinfra e 4) proibiu que radares móveis sejam colocados nas rodovias estaduais para multar motoristas sem aviso prévio.
Não se pode negar: são pequenas ações com grande repercussão entre a população, todas muito positivas, mas… sem desdobramentos reais quando a questão principal a enfrentar é a crise fiscal do Estado. Não trazem nenhuma redução de despesa, nem ínfima. Não contribuem, mesmo como metáforas carregadas de significados, com o que importa, no momento, que é a busca do reequilíbrio financeiro e a superação da herança maldita recebida dos governos anteriores.
Esse é o verdadeiro desafio do governo Caiado: não repetir a estratégia de “ajeitamento” que foi a regra entre os seus antecessores e utilizar o enorme capital político que recolheu nas urnas para fazer as reformas necessárias e libertar Goiás de duas camisas de força: uma, a estrutura superada que foi criada no início dos anos 60 pelo então governador Mauro Borges, que domina o Estado até hoje, e outra sair da política de improvisação que enterrou todo e qualquer planejamento em troca de ações de governo inventadas para os próximos dias e não para os próximos anos.
Para isso, o novo governador precisa enfrentar a necessidade de reformas e reavaliação de tudo o que o Estado faz hoje. Por quê, por exemplo, manter uma estrutura caríssima como a do Ipasgo, que poderia ser substituída zás trás pelo atendimento médico prestado por seguradoras privadas? Por quê manter uma televisão e duas emissoras de rádio sem audiência e sem utilidade para os goianos? Para quê continuar gastando recursos públicos em estruturas inúteis como a Goiásparcerias, a Goiás Telecom ou a Goiás Gás? Para quê manter caríssimos escritórios de representação em Brasília e São Paulo? Por quê, enfim, Caiado deve manter intacto o que herdou dos governos passados, inclusive a prática de conchavos políticos que ele condena, mas da qual não abriu mão (nomeou o ex-prefeito de Americano do Brasil, região onde tem influência política, para a vice-presidência da Saneago, para a qual o ungido não tem preparo nenhum)?
Um governo novo, com um governador com a credibilidade moral de Caiado e a gordura que acumulou com uma espetacular vitória nas urnas, não tem o direito de desperdiçar esse capital e apenas mudar algumas coisas para que, tudo, no fundo, no fundo, permaneça como sempre foi.