Não pagar dezembro foi erro capital que comprometeu o governo Caiado, transformou-se em símbolo da sua ineficácia e não deixa a gestão deslanchar, amarrada a um debate estéril

É difícil encontrar o adjetivo certo para classificar o tamanho do equívoco cometido pelo governador Ronaldo Caiado(acima, em imagem printada de um noticiário da TV Anhanguera) ao resolver não pagar grande parte da folha de dezembro do funcionalismo estadual, apresentando justificativas técnicas (a falta de empenho) que não convenceram ninguém.
O fato é que a decisão afetou o tremendo capital político que Caiado conquistou ao vencer a eleição em 1º turno, com votação recorde superior a 60% da preferência dos goianos. Foi um erro capital, que jogou o governo no chão ao se transformar em símbolo da sua ineficácia, logo nos seus passos preambulares, e amarrar a nova gestão a um debate estéril sobre salários de servidores públicos – hoje assunto presente na maioria das falas do governador e olhem, leitora e leitor, que ele nesse quesito é de uma exposição exagerada.
Em vez de discutir propostas ou os principais temas do desenvolvimento do Estado e de interesse geral dos goianos, e não de uma categoria específica, Caiado acabou envolvido em uma espiral onde perde precioso tempo administrando datas de pagamento, inventando argumentos para o atraso, implorando ajuda do governo federal para solucionar o imbróglio e se enredando em armadilhas que ele próprio coloca à sua frente, como o compromisso público que fez de que as folhas de pessoal do seu governo seriam quitadas dentro do mês – que, já em fevereiro, não conseguiu atender. E o pior: essa controvérsia vai se esticar até meados do segundo semestre, dada a intenção do Palácio das Esmeraldas de quitar dezembro em no mínimo seis parcelas.
O prestígio que Caiado acumulou ao longo da sua trajetória, que resultou na sua excepcional vitória eleitoral em 7 de outubro último, não é um haver definitivo nem muito menos inesgotável e precisa ser revigorado a cada dia. No Legislativo, onde as responsabilidades são curtas, é até fácil de ser mantido. No Executivo, a conversa é outra e é por isso que, no Brasil, passaram a ser raros os casos de governantes com popularidade elevada – em sua maioria por não integralizar, no mandato, as expectativas que geraram na campanha.
Isso está acontecendo com Caiado. Mas ele, do alto da sua autossuficiência e até uma certa arrogância, não enxerga.