Privatizações de Caiado, começando pelos abacaxis da Metrobus, Iquego e rodovias, correm o risco de não atrair interessados e ainda comprometer a credibilidade do governo de Goiás
Desde a sua posse que o governador Ronaldo Caiado sinaliza que pode lançar um processo de alienação de ativos estaduais, muito embora não tenha dado ainda nenhum passo concreto nesse sentido, mas sugerindo em declarações esparsas que podem ser vendidas a Metrobus e a Iquego, além de distribuir rodovias através de outorga para a iniciativa privada. Há aí, embutida, uma estratégia que visa agradar a equipe econômica do governo federal, que, se fizer algum dia alguma concessão em termos de socorro financeiro a Goiás, exigirá em troca algum tipo de programa de privatizações.
Se vai funcionar ou não, depende. O governo Caiado é naturalmente lento em seu método de decisões, consequência da formação parlamentar do seu chefe maior e do seu centralismo imperial, que amarra a equipe de auxiliares, além do mais até hoje buscando aproximação com a realidade do Estado, já que a maioria veio de fora e nunca antes tinha colocado os pés em território goiano. O gosto do governador por consultorias e pela formação de comissões, comitês e grupos de trabalho para assessorar o Palácio das Esmeraldas nas áreas mais sensíveis também ajuda a retardar o relógio da administração instalada desde 1º de janeiro.
O que mais pesa negativamente, no entanto, são os alvos que Caiado vem prognosticando para as primeiras privatizações da sua gestão. Duas estatais, a Metrobus e a Iquego, estão no topo da lista, que traz em seguida seis rodovias estaduais duplicadas, cuja concessão está autorizada em lei assinada em 2018 pelo então governador Marconi Perillo (devidamente aprovada pela Assembleia). São, na verdade, três abacaxis. A Metrobus só consegue rodar no eixo Anhanguera porque recebe subsídios para cobrir a defasagem da sua tarifa, caso contrário já teria falido. A Iquego é um amontoado de máquinas velhas, sem deter hoje um único registro para fabricar medicamentos e só dispondo como atrativo de um prédio de 15 mil metros quadrados, na saída para Trindade, mais nada. Lixo puro, que não pode ser levado a sério como ponto de partida para um programa de venda de ativos capaz de aparentar um mínimo de credibilidade.
Sobram as tais rodovias duplicadas. São seis: GO- 010, até o entroncamento da GO-330; GO-020/330, até Catalão; GO-060, até Piranhas; GO-070, até a cidade de Goiás; GO-080, até o entroncamento da BR-153 (cuja duplicação está em execução); e GO- 213, até Morrinhos e Caldas Novas. Algumas, como a que vai até Catalão, apresentam trechos danificados, quase intransitáveis. Todas, sem exceção, demandam investimentos elevados para alcançar uma situação em que despertem algum interesse, a menos que sejam repassadas de graça e ainda com incentivos financeiros.
Se esse for o roteiro inicial das privatizações do governo Caiado, podem escrever, leitora e leitor, o cheiro de fracasso é insuportável.