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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

25 mar

Caiado quer subtrair 30% do FCO e repassar ao governo, para aplicar em infraestrutura. Isso não é bom porque reduz a maior fonte de dinheiro a custo baixo que financia investimentos privados em Goiás

Quem imaginava que o governador Ronaldo Caiado, pela sua longa militância em um partido de filosofia liberal (o PFL e depois o DEM) e até pelas suas próprias posições contra o excesso de intervenção do Estado na economia, jamais poderia esperar ouvir o que ele anunciou no último fim de semana(veja o vídeo acima) : vai reunir os governadores do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal para acertar, com eles, a reserva de 30% das verbas do Fundo Constitucional do Centro-Oeste – FCO para que os governos estaduais apliquem em obras de infraestrutura. Ou seja: tirar ainda mais da sociedade e entregar à voracidade do Estado, exatamente o contrário do que preconiza o ideário do PFL-DEM e do próprio governador.

 

O FCO é praticamente a única fonte de financiamento a custo baixo disponível, em Goiás, para que empresários de todos os tamanhos viabilizem os seus investimentos, com rapidez e sem burocracia, diretamente nas agências do Banco do Brasil, Sicoob e Goiásfomento. E é muito dinheiro: no ano passado, foram R$ 2,4 bilhões de reais, enquanto que, em 2019, esse valor pode ultrapassar R$R 3 bilhões. Detalhe: Goiás é o único Estado que consegue alocar integralmente toda a sua parcela do FCO. Os outros beneficiados sempre devolvem parte dos recursos a que têm direito. E, detalhe do detalhe, essa sobra é direcionada para quem demanda  mais, no caso… Goiás.

 

Pois Caiado quer meter a mão em um terço dessa bolada, o que pode chegar a mais de R$ bilhão, que seriam retirados dos negócios privados em Goiás, aqueles que verdadeiramente geram empregos, renda e tocam a economia, para jogar no caixa do pior gestor de ativos financeiros que existe no país, o setor público. Tudo bem que a desculpa é o direcionamento para obras de infraestrutura, o que ameniza, mas não elimina a desconfiança sobre o retorno dos fundos do FCO que seriam desviados da sua finalidade original. E de resto, seria mais um empréstimo para se somar à formidável dívida do governo de Goiás, que hoje passa de R$ 20 bilhões, com uma desvantagem: pelo menos de acordo com a regra atual, o que sai do FCO deve retornar com carência de um ano e meio e em seguida pagamentos mensais pelo período máximo de cinco anos. Esse, definitivamente, não é um perfil adequado para levantar dinheiro para enfiar, por exemplo, na construção de rodovias, que oferecem maturação econômica a longuíssimo prazo.

 

Mas o que importa é que Caiado quer subtrair do setor privado uma fonte de custeio que é fundamental para a sua expansão em Goiás e já se incorporou ao planejamento dos empreendedores goianos. Isso não é bom. Não resolve do lado do governo e só piora as coisas para a sociedade. Se o governador tiver juízo, desistirá da ideia. Se não, a solução é a mobilização dos interessados e mesmo da classe política, bancada federal principalmente, para barrar a tempo essa fatalidade.