Depois de empurrar um presidente goela abaixo do Palácio das Esmeraldas, Assembleia prepara-se para impor segunda derrota maiúscula a Caiado, com a ampliação do orçamento impositivo para 1,2%
Há um clima de conspiração na Assembleia Legislativa: os deputados, em sua maioria, preparam-se para aprovar o projeto que torna obrigatório e automático o pagamento das emendas orçamentárias apresentadas por eles próprios, subindo de 0,5% para 1,2% o percentual delas sobre o orçamento geral – hoje inscritas na rubricas de restos a pagar, mas de onde serão retiradas, conforme o texto do deputado oposicionista Talles Barreto já encaminhado e só não aprovado ainda diante de manobras quase que desesperadas da liderança do governo, em fase de esgotamento.
Será a segunda derrota de grandes proporções do Palácio das Esmeraldas, depois da eleição de Lissauer Vieira em completa dissonância com os interesses do governador Ronaldo Caiado na Assembleia. Nas últimas sessões, os poucos deputados que atendem aos interesses do governo se desdobraram em artifícios para protelar a votação da emenda, no momento retardada por um pedido de vistas de Álvaro Guimarães, do DEM, espécie de líder informal do governo, mais atuante nessa função que o oficialmente designado Bruno Peixoto, do MDB.
Sob coordenação do deputado Iso Moreira, a propósito, caiadista de primeira hora, deputados têm se reunido com frequência em torno de um primado que elegeu Lissauer Vieira e parece convencer a todos: a afirmação da autonomia e da independência da Assembleia deve passar ao largo da formatação da base de apoio ao governo Caiado. Assim, seria lícito a qualquer um deles aproveitar-se da cota de R$ 30 mil em cargos oferecida pelo Executivo ou mesmo indicar nomes para as duas diretorias que estão sendo disponibilizadas para cada um, desde que aceite respaldar incondicionalmente o governo, porém dando-se ao direito de não abrir mão das vantagens garantidas pela condição de detentor de uma cadeira no Legislativo.
Entre essas vantagens, estaria o poder de emendar o orçamento, destinando recursos para os municípios e para entidades filantrópicas independentemente da necessidade de sanção pelo governador do Estado. Isso vale ouro: implica em ajudar à vontade entidades sociais, prefeituras, viabilização de pequenas obras e mais uma imensidão de projetos que reafirmam a presença do parlamentar em suas camadas sociais de sustentação mais profundas. É uma aspiração à qual é difícil se opor. Pior ainda no caso de um governo frágil politicamente, que não consegue demonstrar que dá importância aos deputados. É derrota certa para Caiado.