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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

08 abr

Criada nos anos 60, quando estatização era a palavra de ordem, Iquego deveria ser liquidada e não alvo de qualquer tentativa de ressurreição – que só vai desperdiçar mais dinheiro público

E uma ideia infeliz a tentativa de ressurreição da Iquego, que o governador Ronaldo Caiado deve empreender nos próximos meses, conforme anuncia o atual presidente da autarquia, Denes Pereira.

 

A Iquego foi criada pelo então governador Mauro Borges, no início dos anos 60, dentro da onda estatizante que foi a marca da economia brasileira na época. Mauro Borges fez uma revolução em Goiás, Estado arcaico que começou a se modernizar com a estrutura administrativa avançada que ele implantou e que, quase 60 anos depois, ainda sobrevive através de órgãos como o Ipasgo, as rádios e televisão Brasil Central e a própria Iquego.

 

Mas tudo foi superado pelos tempos. Quem duvida que a Unimed atenderia melhor aos funcionários públicos quanto aos seus planos de saúde? Ou que manter emissoras estatais de rádio e TV, que ninguém assiste, corresponde a jogar dinheiro público pelo ralo? E qual o sentido de investir milhões para que um laboratório estadual de remédios volte a funcionar, em um país onde a indústria farmacêutica cresceu e tornou-se uma das mais competitivas do mundo?

 

Os governos do passado fizeram de tudo para salvar a Iquego. A empresa foi até colocada em leilão, sem que nenhum interessado aparecesse. Até uma parceria com a Cruz Vermelha Internacional foi esboçada, descobrindo-se depois que tudo não passava de uma vigarice. Agora, o governo Caiado fala em reativação e cogita propor uma Parceria Público-Privada. É ilusão. Ou irresponsabilidade.

 

Não é função do Estado fabricar medicamentos. Assim como não é oferecer planos de saúde a servidores ou tocar veículos de comunicação. Não tem sentido. O próprio Caiado, formado historicamente nas fileiras do PFL e depois do DEM, deveria ser um político de corte liberalizante e portanto a favor de concentrar os esforços do governo em atividades essenciais para a população. Há poucos dias, o governador chegou até a fazer uma crítica à Metrobus, que explora o Eixo Anhanguera (esse, sim, um serviço fundamental para as cidadãs e cidadãos), afirmando que o Estado não teria que se travestir de empresário do transporte coletivo. Há algum extremismo aí, mas é verdade, sim. Pior ainda quanto a botar banca como dono de fábrica de remédios.