A única régua que serve para medir a eficiência de um articulador político de governo é a maioria no Parlamento. Como, depois de 6 meses, Caiado ainda não a tem, o secretário Ernesto Roller fracassou
Deputado estadual por dois mandatos, em um dos quais ocupou a função estratégica de líder do governador Alcides Rodrigues na Assembleia, o advogado Ernesto Roller renunciou aos seus dois anos finais na prefeitura de Formosa para assumir – em meio a muita festa – a missão de articular as conexões entre o Executivo e o Legislativo partir da posse de Ronaldo Caiado e assim construir a chamada governabilidade, ou seja, a garantia de respaldo parlamentar para as ações de Caiado. Em janeiro, quando tomou posse na Secretaria do Governo, ele deu a impressão de que, ali, estaria começando um passeio.
Seis meses depois, todas as expectativas foram frustradas: Roller não entregou a encomenda. Para começo de conversa, Caiado tomou uma surra acachapante na eleição para presidente da Assembleia, tornando-se o primeiro governador em 60 anos a não ter na chefia da Casa um deputado da sua confiança. Lissauer Vieira atropelou os interesses do Palácio das Esmeraldas, que viu-se repentinamente imobilizado e surpreendido pelo rolo compressor que esmagou a candidatura de Álvaro Guimarães. Abria-se, ali, uma fissura que, a seguir, acabou se transformando em uma cratera no relacionamento entre o novo governador e a nova Legislatura: o governo, impotente, assistiu contrafeito à aprovação do orçamento impositivo, ao arrepio da sua vontade, e nesta semana foi obrigado a deglutir a seco a emenda que institui a reeleição do presidente da Casa, garantindo a Lissauer Vieira o direito de permanecer atravessado na garganta de Caiado até o último dia na Praça Cívica .
Onde estava o articulador Ernesto Roller enquanto tudo isso foi acontecendo? Reconheça-se: estava trabalhando duro, correndo atrás dos deputados, infrutiferamente pilotando o “balcão de negócios” que Caiado condenou nas administrações passadas, mas ressuscitou na sua própria. Ostensivamente, deputados foram chamados para receber a proposta de R$ 30 mil em nomeações, mais duas diretorias, para em troca votar a favor do governo. “O que você precisa para nos apoiar?”, foi a pergunta que muitos ouviram na Secretaria do Governo. Nem todos aceitaram, criou-se um ambiente de constrangimento e como consequência a tal base de apoio acabou se desmoronando antes mesmo de ser cimentada.
A eficiência e a competência de um articulador político de qualquer governo só podem ser medidas pelo apoio que consegue construir no Parlamento. Não há outra régua. Mesmo porque Roller passou recibo ao marcar presença no plenário da Assembleia nas três votações de importância, até agora – a eleição do presidente, o orçamento impositivo e a emenda da reeleição – que testaram e reprovaram o poder de influência de Caiado entre os 41 deputados. Ele vestiu a carapuça e terminou derrotado, por placares folgados, em todas as três, com reflexos provavelmente muito negativos na futura apreciação de matérias polêmicas ou de interesse capital para a gestão, assim comprometida em sua capacidade de adotar as soluções que entende para os desafios do Estado.
A coluna Giro, em O Popular, nesta quarta-feira, um dia após o desmoralizante fiasco na votação da emenda da reeleição do presidente, trouxe um recado cifrado para o secretário Roller: “Deputados estaduais já comentam nos corredores que o núcleo político do governo estadual se inviabilizou após a investida mal sucedida contra a reeleição na Assembleia Legislativa. No lugar de “núcleo político”, leia-se Ernesto Roller. E onde está escrito “investida mal sucedida”, substitua por articulação política amadorística e infantil. Caiado, nesse particular, está com uma mão na frente e outra atrás.