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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 out

Política em Goiás está concentrada em Caiado e isso não é bom: falta uma oposição capaz de cumprir o seu dever de apresentar alternativas e críticas bem fundamentadas e isso é ruim

Desde que foi eleito, talvez até um pouco antes, a partir de quando se mostrou como um candidato irresistivelmente destinado a vencer as eleições, o governador Ronaldo Caiado se transformou no centro do noticiário e das articulações políticas – a tal ponto que se tem a impressão de que, fora da sua área de influência, não existe vida em Goiás.

 

O ex-governador Marconi Perillo virou pó. É a primeira vez que isso acontece, ou seja, que um governante recém apeado do poder desaparece do cenário político, que só frequenta a cada nova denúncia de que é alvo. É triste ler que o tucano não tem nada a fazer a não ser gastar o seu tempo cuidando dos processos judiciais a que responde e pior ainda que, depois de duas décadas de fastígio como algo próximo de um semideus, preferiu-se esconder em São Paulo a sequer pisar terras goianas para defender o que mais preza, ou seja, o seu legado, hoje parecido com farinha de terceira categoria.

 

Mas fatos são fatos. Caiado domina 100% das manchetes e governa sem oposição, pelo menos uma em condições de apontar erros ou minimamente sugerir alternativas ou, fora esse papel positivo, apresentar uma crítica baseada em argumentos passíveis de consideração. Isso não é bom para Goiás. O governador não tem culpa e é sabido que entre a sua assessoria mais próxima existem até reclamações quanto ao que deixa de espaço aberto… que os adversários não sabem aproveitar. É uma moleza, um campo aberto que nenhum antecessor seu teve antes e que, com certeza, está na raiz dos 67% de aprovação que obteve na pesquisa do instituto Paraná – mais do que o percentual de votos que ganhou nas urnas de 2018

 

Marconi tem culpa nesse estado de coisas. O cachimbo dos 20 anos de poder entortou a sua boca. Acostumou-se a bajuladores. Acreditou nos elogios fáceis. Teve a fantasia rasgada pelo 5º lugar na eleição para o Senado e pela prisão na Polícia Federal. Perdeu o rumo e nunca mais o reencontrou. Dez entre dez interlocutores que conversaram com ele, ultimamente, registraram a mesma opinião: ele, Marconi, ainda pensa que é o governador e continua em cima do pedestal.

 

Não é bom para nenhum governante não ter uma oposição ativa. Plutarco, no livro “Como Tirar Proveito dos seus inimigos”, escreve nossos adversários são muito mais úteis e trazem muito mais benefícios para o acerto das nossas decisões do que os aliados: “Como me defenderei dos meus inimigos? Ora, tornando-me, eu próprio, virtuoso”. Caiado, como homem público, já o é. Mas preside um governo imenso, com uma estrutura que ele nunca controlará perfeitamente. Precisa da ajuda da oposição. Que segue… omissa.